terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Lições de uma tragédia

Prometo que está será uma das últimas vezes em que escrevo sobre a tragédia de Oruro. Ainda abalada, penso diariamente no futuro que Kevin Espalda poderia ter se, em seu primeiro jogo dentro de um estádio, não tivesse morrido de forma tão brutal.


Sim, é brutal. Já se colocaram no lugar da família dele? Vamos fazer um exercício: façam de conta que o garoto morto por um sinalizador é seu irmão ou seu filho. Bom, agora imagem a cena: ele sai de casa, com autorização dos pais, para assistir um jogo de futebol e realizar seu sonho de ver uma partida num estádio. A emoção deve ter invadido seu peito. É assim que acontece a primeira vez que estamos in loco.

O vazio no Pacaembu nos leva a repensar tudo

Bom, logo que começa o jogo você assiste à festa da torcida e pensa: ‘como isso é lindo!’. Logo aos seis minutos, seu time leva um gol do campeão do mundo. ‘Que droga! O jogo vai ser difí...’. Antes de terminar o pensamento, seu primo grita e você, simplesmente, apaga. Morreu, porque um inconsequente o atingiu com um artifício de fogo que é proibido em jogos da Libertadores pela organizadora, a Conmebol.

Em vez de haver silêncio. Os gritos de dor do seu primo se misturam com os gritos de comemoração da torcida organizada. O jogo da vida de Kevin acabou. E agora, o que resta? Dor, revolta e senso de justiça. Não seria isso o que você sentiria se tivesse acontecido com alguém de sua família?

Por incrível que pareça, a partida não foi interrompida. Os negócios do futebol falam mais alto e há dinheiro em jogo. Afinal, quanto vale a vida?!

Na última semana as discussões giraram em torno de muitas coisas: violência, segurança, punição, responsabilidade, prejuízos... Mas no fim das contas, o que realmente estamos discutindo? Kevin não vai voltar. Mas, temos como missão e honra evitar que outros percam a vida como ele.

Pressionada, a Conmebol puniu o Corinthians e afastou dos estádios a massa que o impulsiona. Perderam o clube – financeira e emocionalmente – e o torcedor comum, que só acompanha o time por paixão. Só esqueceu que ela, como entidade, também tem responsabilidade ao lado do dono do estádio, o San José. 

As organizadas, responsáveis pelas atrocidades que há décadas assistimos, continuam impunes. E agora arrumaram um menor de idade para assumir a responsabilidade. Seria ele mesmo o responsável pela morte do boliviano? Da forma como tudo foi apresentado é difícil acreditar.

A dor pela perda de uma vida inocente permanece. E a impunidade e o jogo sujo do esporte também. Afinal, nada de concreto foi – ou será feito – para evitar novas tragédias como esta. O único a pagar a pesada conta é o clube que, sim, tem parcela de responsabilidade por seu torcedor, principalmente quando o financia, como disse em alto e bom som o tio de Kevin: ‎"À medida que o Corinthians financia os integrantes de sua organizada, que não são torcedores comuns que pagam ingresso para assistir aos jogos, o clube é responsável pelo que ocorreu".

A lição disso tudo: temos que mudar! O futebol não pode ser o espaço da intolerância, da violência gratuita e da impunidade. Os gramados são espaço do espetáculo, da alegria e da paixão, e devem continuar a ser.

Para isso, todo aquele que ama este esporte e seu clube deve entoar o coro pelo fim das torcidas organizadas. Não porque fazemos generalizações e achamos que todos que pertencem a elas são ruins, mas porque em decorrência de seus erros, perdemos o encanto.

Essa foi a lição que eu tirei. E você?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Prejuízo para todos os lados




Os dois últimos dias não foram nada fáceis. Qualquer pessoa em sã consciência ficou abalada com a morte do jovem Kevin Beltrán Espada.

Como todo adolescente de 14 anos, ele era apaixonado por futebol e pelo seu clube. Apesar de morar em Cochabamba, foi com a família até Oruro, cidade vizinha, para assistir a estreia do seu time na Libertadores. Saiu de lá num caixão.

Futebol está de luta. Não à violência!

Aqui no Brasil, só ficamos sabendo de sua morte no fim da partida. A partir dali, começou um drama enorme de consciência para os torcedores do Corinthians: se indignar com a morte de um companheiro de arquibancada ou cobrar punição ao seu time de coração que, indiretamente, tem responsabilidade por tudo o que acontece dentro de campo?

Vou dizer a vocês que não é fácil. A primeira coisa que veio na minha cabeça foi: ‘e se fosse comigo?’ ou ‘e se fosse com algum amigo meu?’. Afinal, estamos sempre no Pacaembu incentivando a equipe e, até pela enorme quantidade de torcedores, sempre estamos próximos das torcidas organizadas.

Na hora chorei pela morte besta de um menino que estava ali para se divertir. Não há como não se indignar que uma partida de futebol não seja interrompida após uma morte! Nunca e por motivo algum isso deve acontecer. Se ele morreu no início do jogo, por que não interromperam a partida? Até agora não entendi.

Depois fiquei imaginando se aquilo havia acontecido por acaso ou se tinha sido algo planejado. Na hora não tinha muitas imagens e, posteriormente, as que pareciam que havia sido uma ‘fatalidade’. Agora, imagens recentes divulgadas por uma rádio boliviana me fazem acreditar que a ação foi proposital, o que é inadmissível! E ainda contesto: como um sinalizador, que é proibido pelo regulamento da competição, estava em posso de torcedores na arquibancada?! Cadê a revista? A segurança?

Há uma mistura enorme de sentimentos. Revolta pela vida perdida, necessidade de justiça e amor ao meu time. Sim, podem me questionar, mas é isso o que eu sinto.

Kevin nunca mais verá um jogo. Está certo isso?
Até cogitei a ideia de defender que o clube saísse por conta própria da competição. Seria um marco se isso acontecesse, pois mostraria que, tal qual o Barcelona, somos “mais que um clube”, mas depois refleti e não achei justo que os jogadores e a entidade fossem prejudicadas por algo que não está diretamente sob seu controle.

Quando vi a notícia de que o clube foi punido com jogos com portões fechados achei, em partes, que a Justiça foi feita. Primeiro porque a Conmebol sempre foi omissa e a atitude mostra que não devemos aceitar que coisas como esta voltem a acontecer. Por outro lado – e enquanto torcedora – fiquei frustrada. Afinal, estou com os ingressos comprados para a competição desde dezembro e, por conta da atitude de alguns, fui diretamente punida.
Também não vou criticar o clube por recorrer da decisão da Conmebol. É um direito pertinente a ele, que tem motivos para o fazer, pois o prejuízo com a perda da renda é tamanha, especialmente após os investimentos feitos para a competição. No entanto, do fundo do coração, e apesar da minha frustração, queria que a decisão fosse mantida.

Kevin nunca mais poderá ver um jogo. Sua família terá de conviver com a dor de sua perda para sempre. Perder três ou quatro jogos não vai mudar a minha vida. Eu – por sorte – estou aqui e nunca me envolvi num acidente num estádio.

O Corinthians, por ser o primeiro clube punido com tal severidade, servirá de exemplo. E, certamente, precisará – e deve – mudar sua relação próxima com as torcidas organizadas de uma vez por todas. Pois, se colocar na ponta do lápis, verá que quem dá renda ou ajudar nas finanças do clube são os torcedores comuns que adotaram o Fiel Torcedor, compram produtos oficiais nas lojas Todo Poderoso, gastaram os tubos para ir ao Japão e que estão ali, sem causar dano nenhum ao clube. Diferente das organizadas que recebem ingressos gratuitos e, muitas vezes, têm viagens patrocinadas pelo clube.

Os prejuízos desta tragédia toda atingiram todos os lados. A família de Kevin que jamais se recuperará, o Corinthians que perde dinheiro e a chance real de brigar pelo título e a torcida-cidadã que será punida por causa de pessoas mal intencionadas.

Mas, também perde o futebol, que deixa de ter graça por um bom tempo!


P.S. Defendo que, sempre que possível, a torcida corintiana faça homenagens ao Kevin. É o mínimo que podemos fazer.

P.S.2. O Corinthians deveria pagar uma indenização vitalícia para a família do jovem boliviano. Isso não paga a dor, mas é alguma coisa.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Inaceitável


O torcedor corintiano aguardou com ansiedade a estreia do time na Libertadores e por motivos óbvios. Além de ter sido campeão invicto da última edição, a competição sulamericana tem uma aura diferente. Só sabe que torce e acompanha.

Em campo, as coisas logo se acertaram para o time alvinegro quando aos 6 minutos Guerrero abriu o placar. Os primeiros 15 minutos foram do Corinthians que administrou bem o adversário e parecia que iria ampliar a contagem de gols a qualquer tempo.

Por que ainda manter sinalizadores nos estádios?

Mas a bola e a altitude punem. Logo o time começou a sofrer uma pressão considerável do San José e a sentir os efeitos dos 3.700 metros acima do mar. Normal.

O empate do time boliviano veio no segundo tempo e, a partir de então, os brasileiros administraram o placar porque, afinal, em Libertadores empate fora de casa é um ótimo resultado.

Para os supersticiosos, começar com um placar semelhante ao da primeira rodada de 2012 pode ser um bom presságio. Aguardemos.

No entanto, a vitória corintiana não pôde ser comemorada, pois ainda no primeiro tempo um jovem boliviano, de 14 anos, morreu após ser atingido por um artefato explosivo que, segundo as notícias apuradas até agora, foi jogado pela torcida do Corinthians.

Além do espanto pela morte de um jovem que estava ali simplesmente para assistir uma partida de futebol, fica a indignação com relação à Conmebol que não paralisou a partida após o incidente, como se a vida de um ser humano não valesse mais que uma bola rolando. Inaceitável!

Também noticiado pela imprensa, parece que o acidente não aconteceu premeditadamente e ocorreu por acaso. Vamos aguardar maiores detalhes para poder falar algo mais concreto.

Mas, independentemente disso, a morte deste jovem não vale um jogo, um título ou um campeonato. Quando Tite chorou e disse na coletiva que trocaria o título pela vida do jovem, tenho certeza, que foi sincero e deveria ser o sentimento de todos os envolvidos.
No entanto, me pergunto: se comprovadamente, fogos de artifício causam tantos acidentes - haja visto as mortes na boate em Santa Maria - por que cargas d'água eles ainda podem ser levados para dentro dos estádios? Certamente, minha pergunta ficará sem resposta.

Para piorar a situação, pelo novo regulamento, o Corinthians pode ser eliminado da competição devido ao acidente. Com dor no coração, acredito que seria a coisa correta para coibirmos a qualquer custo este tipo de violência dos estádios.

O clube não tem culpa pelos atos de seus torcedores, mas chega uma hora em que alguém deve se responsabilizar ou dar o exemplo. Mas, pelo que conhecemos da Conmebol, o caso será abafado e o show vai continuar. Mas será que terá graça jogar sabendo que uma vida foi perdida ali ao lado, na arquibancada?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

“Pouco futebol e muito descolorante, os males de Neymar são”


 Quando blogueiros e jornalistas criticam Neymar, muitas vezes são acusados de fazer isso em razão de paixões clubísticas. Em alguns casos, até pode haver mesmo uma pontinha de ciúme devido à qualidade do futebol do jogador.

No entanto, nos últimos tempos há razões de sobra para, senão criticar, mas apontar algumas falhas tanto no comportamento, quanto na qualidade técnica do atleta. Mas, quando isso é dito por Pelé, a coisa passa a ter relevância e deixa de ser visto como despeito.

Atacante foi criticado por Pelé

Nesta quarta-feira (20), o Rei do futebol deu uma bela entrevista para O Estado de S. Paulo e disse coisas que todo mundo tem vontade de dizer, mas nem sempre pode sobre Neymar. E acho, particularmente, que ele tem toda a razão!

A frase mais contundente de Pelé sobre o jovem atacante demonstra bem o que vimos no amistoso contra a Inglaterra: ‘ele (Neymar) é um jogador comum na seleção’. De fato, o atleta nunca apresentou na seleção o mesmo futebol desfilado pelo Santos em campos nacionais. Ali, ao lado de outras ‘estrelas’ ele é apenas mais um e, para o que se espera - e cobra dele - é muito pouco.

Pelé foi além. Disse que o craque não tem experiência internacional e, embora todos achem que ele tem que resolver os problemas da seleção, ‘Neymar não está preparado para receber este peso’.

Isso é notório, mas ninguém tem coragem de falar. Não é porque Pelé foi maduro aos 17 anos e ajudou na conquista da primeira Copa do mundo para o Brasil, que Neymar aos 21 fará o mesmo. As realidades são diferentes.

No entanto, a meu ver, a maior crítica do Rei é o que mais me preocupa sobre o jovem atacante: ‘Nós do Santos falamos que ele é o melhor do mundo, claro. Mas ele já se preocupa mais em aparecer na mídia do em jogar para o time’.

Sim, Neymar se tornou um produto de marketing e o futebol, que é o seu ganha pão, ficou de lado. E, sem ele, logo mais pode deixar de ser um craque para ser uma eterna promessa. E não é isso o que queremos.

Os dois últimos rompantes dele em campo – quando acusou o técnico do time adversário chama-lo de macaco e a briga inocente com o atacante da Ponte Preta – mostram que, quando não ganha na bola, Neymar quer ganhar no grito, pois está convencido de que é o melhor, mesmo quando está mal. E aí, mesmo sendo caçado em campo, simula faltas e isso faz com que ele seja visado pelos árbitros que não vão mais cair na imagem do cai-cai.

Claro que Neymar é excelente e atua ao lado de muita gente sem qualidade, mas quando o ego se torna maior do que os atributos futebolísticos é hora de parar e pensar.

Espero que as críticas de Pelé toquem Neymar. Alguém precisava tirá-lo do pedestal. Pois como já dizia Macunaíma:  ‘pouco futebol e muito descolorante, os males de Neymar são’.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Ao Doutor, com carinho...


Só faz um ano que o Doutor Sócrates foi jogar em outros campos, mas é inegável a falta que ele faz ao nosso futebol. Não dentro de campo, pois lá fez tudo o que podia e mais um pouco, marcando para sempre a história do Corinthians e da Seleção Brasileira.

Hoje, Sócrates faz falta do lado de fora dos gramados, onde com suas opiniões contundentes e postura reta nos davam a esperança de que, num futuro próximo, poderíamos sonhar com uma faxina no futebol brasileiro, colocando para fora cartolas do naipe de Ricardo Teixeira, José Maria Marín – o presidente da CBF que faz ‘gato’ na luz do vizinho -, entre tantos outros.

Jogadores de punhos erguidos em homenagem
a Sócrates
Lembro pouco de Sócrates com a camisa do Timão. As imagens mais marcantes que tenho dele são da Copa de 1986. Apesar de ter quase 7 anos, tenho até hoje gravada na memória as lembranças de nossa eliminação naquele Mundial. Lembro que gostava de vê-lo comemorar os gols com pulso erguido... E desconfio que, desde então, os genes esquerdistas tomavam conta com meu corpo de criança.

Quando Sócrates foi internado pela primeira vez em 2011, estive com Basílio e Zé Maria e eles me confessaram que, embora o Magrão gostasse de beber, não imaginavam que a coisa estava tão séria. Ambos demonstraram muita preocupação com ele. Ali eu soube que o fim estava próximo.

Mas devemos lembrar que Sócrates era forte e não se deixava vencer com facilidade. Saiu do quadro crítico, anunciou que tinha parado de beber e que iria se cuidar porque queria viver. E como ele queria.

Torcida acompanhou o gesto
Meu espanto foi acordar no dia 4 de dezembro daquele ano com a notícia de sua morte. Em 32 anos, naquele dia que eu poderia ver pela primeira vez meu time se tornando campeão dentro do estádio. Faltavam algumas horas para o pentacampeonato brasileiro.

Por ironia do destino, anos antes o próprio Sócrates tinha decretado: 'Quero morrer num domingo e com o Corinthians campeão'. E assim foi.


Certamente, muitos momentos dentro do estádio foram marcantes da minha vida: o primeiro jogo, o primeiro clássico, o título da Libertadores, mas a cena da torcida e dos jogadores em círculo no gramado com os punhos levantados gritando seu nome, foi, com certeza, a imagem mais emocionante que vivi no futebol.

E hoje, quando o nosso Magrão completaria 59 anos, não poderia de dedicar este texto 'ao Doutor, com carinho'.



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

De vexame em vexame, a crítica enche o papo


Na última semana (incluindo o período do Carnaval), São Paulo recebeu o Brasil Open 2013 e, para a alegria de fãs de tênis, ninguém menos que Rafael Nadal era uma das estrelas do torneio, mesmo voltando de uma complicada lesão no joelho.

Nadal venceu o Brasil Open 2013, mas
enfrentou a desorganização

Ao receber um atleta do nível de Nadal era de se esperar que o evento contasse com um mínimo de estrutura, mas não foi isso que tenistas e público encontraram. Durante toda a semana, a organização do Brasil Open foi durante criticada pela falta de infra-estrutura, tornando a competição mais um vexame brasileiro.

E, de novo, parece que batemos na mesma tecla: ‘se o país da Copa e das Olimpíadas não consegue organizar um simples aberto de tênis, como serão as grandes competições?’. Sei que isso é chato e repetitivo e estamos cansados de voltar ao mesmo assunto, mas não há como não questionar!

A imagem de nossa constante desorganização em diversos sentidos tem feito publicações como o Financial Times criticar o Brasil nas últimas semanas. E, patriotismo à parte, no fundo o jornal britânico tem razão.

Se somos a nova potência econômica e vamos sediar os dois principais eventos esportivos do mundo temos que, no mínimo, fazer alguma coisa direito.

A próxima prova de fogo será a Copa das Confederações que, embora tenha vendidos praticamente todos os ingressos dos setores mais baratos, pena para comercializar os tickets para os camarotes. Fora isso, vamos testar as novas arenas e ver se pelo menos isso sabemos fazer. Sem contar que a mobilidade urbana será um quesito à parte nas avaliações.

Não sou pessimista. Fui – e com alguns senões - continuo favorável à Copa e aos Jogos Olímpicos no Brasil, mas estou cansada de ver que os responsáveis pelos eventos no País cometendo os mesmos erros.

Nadal, pelo atleta que é, merecia ter sido melhor recebido, não em relação aos afagos e carinhos, pois isso o brasileiro sabe fazer muito bem. Ele merecia ter uma quadra decente, uma arena onde as pessoas não estivessem sufocando com o calor e, ao menos, uma bola ideal para jogar. No entanto, a imagem que ele levará daqui é a da desorganização. E isso, meus caros, tem um preço!

Não quero mais escrever sobre nossos erros em organizar o esporte no Brasil. Quero elogiar, será que dá para os dirigentes colaborarem?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Nem anjos, nem demônios. Só humanos


Desde ontem, quando logo pela manhã vi a notícia de que o campeão paraolímpico Oscar Pistorius poderia estar envolvido no assassinato de sua namorada, fiquei pensando sobre a imensa necessidade que a imprensa e a sociedade têm em criar mitos.

Há semanas, o mundo todo ficou embasbacado com as revelações do ciclista Lance Armstrong, que confirmou as suspeitas que sempre rondaram sua carreira: sim, ele havia vencido todas as Voltas da França e conquistado uma medalha olímpica graças ao uso de doping. Aí o mundo caiu, o ídolo ruiu e “perdemos” uma referência.

Atleta foi indiciado por assassinato da namorada

Agora acontece o mesmo com Pistorius. Exemplo de determinação e superação, o sul-africano foi o primeiro biamputado a participar de uma Olimpíada, disputando uma corrida com atletas com pernas. Tem mais emoção e audácia que isso? Claro que não. 

Nós, da mídia adoramos figuras como essas. Afinal, são manchetes de revista e jornal que vendem muito. Agora imagina o reflexo disso no mundo do marketing esportivo onde qualidades como as já citadas do atleta casam perfeitamente com campanhas de impacto, como as da Nike, por exemplo?

Pois é, fica cada vez mais claro que a mídia – e a publicidade – precisam tomar um pouco mais de cuidado com o endeusamento de atletas que não são nem anjos, nem demônios, mas simples seres humanos. E, como humanos, falíveis e propensos a cometer erros como trair a mulher, como foi o caso do golfista Tiger Woods; mentir sobre doping, como o ciclista Lance Armstrong ou premeditar a morte da namorada, como Oscar Pistorius.

A verdade é que vão existir homens e mulheres sensacionais no esporte, como foram Ayrton Senna, Emil Zatopek, Ademar Ferreira da Silva e tantos outros, que foram exemplos dentro e fora dos meios esportivos. Mas também teremos homens como Mané Garrincha e Pelé, só para citar dois ídolos, que foram grandes nos gramados, mas tiveram problemas fora dele como o “anjo das pernas tortas”, que era alcóolatra e o “Rei do Futebol”, que deixou a filha bastada morrer de câncer sem ir visita-la por estar muito ocupado. 

Pelé não foi exemplo fora de campo
A vida é assim. E não podemos nos apegar somente aos feitos esportivos e deixar que as qualidades dos atletas sejam nossa única inspiração. Temos que ficar atentos ao fato de que eles não super-homens.

É de entristecer, por exemplo, ler nos jornais de hoje que o judoca Aurélio Miguel, detentor de duas medalhas olímpicas, ao se tornar vereador tenha multiplicado sua fortuna de R$ 1,4 milhão para R$25 milhões durante seu mandato! 

Para nós, que torcemos e vibramos com eles no tatame, nos sentimos enganados não pelo atleta, mas pelo homem, que como a mídia e a publicidade, se aproveitou de sua imagem no esporte para nos enganar.

E isso vai acontecer sempre que nos atentarmos sempre só para os feitos esportivos! Ou vocês pensam que Messi é um santinho e Cristiano Ronaldo um mau caráter? Temos que ver sempre os dois lados da moeda, para que casos como esse não voltem a nos chocar tanto. Afinal, como eles, todos somos falíveis.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Por que faz isso, Ronaldinho?


Na noite da última quarta-feira (13/2), começou de verdade a corrida rumo à conquista da Libertadores da América. Três times brasileiros entraram em campo buscando uma vaga na próxima fase: Fluminense, São Paulo e Atlético Mineiro.
Como havia um clássico nacional, escolhi assistir o embate entre Galo vs Tricolor, até porque o jogo tinha pinta de que seria bem interessante. E foi.
Para quem gosta de bom futebol foi um prato cheio. O time mineiro que perdeu o Brasileirão 2012 na reta final tem uma equipe bem montada, com destaque para o garoto Bernard e Ronaldinho Gaúcho. Já o São Paulo, após perder Lucas, trouxe Lúcio para a zaga, Ganso para o meio campo e o atacante Aloísio, que fez bela campanha pelo Figueirense no nacional passado. Bom, com esses ingredientes, tinha como ter jogo ruim? Não, mesmo!

Ronaldinho precisa atuar na Seleção como no Atlético-MG

Para minha surpresa, o Galo começou mostrando muita disposição e um jogo acelerado que logo sufocou o Tricolor, deixando sua zaga são-paulina perdidinha.
Mas jogo de Libertadores é imprevisível e, como o São Paulo tem Luís Fabiano, tudo podia acontecer.
E não é que quem me surpreendeu foi Ronaldinho Gaúcho? Explico: sou ferrenha defensora de que ele seja excluído das convocações para a Seleção Brasileira. Nunca atuou com a canarinho como nos clubes que defendeu, nem nos áureos tempos de Barcelona.
Sei que muitos vão pensar: 'ah, mas na Copa de 2002 ele jogou bem'. Tá, jogou, mas bem abaixo do que poderia e, em comparação a Ronaldo e Rivaldo, foi um mero espectador daquele time. É a minha opinião (embora o gol contra a Inglaterra na semifinal tenha sido lindo, confesso).
Dito isso, voltemos ao jogo de ontem. Num lance bem malandro, Ronaldinho enganou Rogério Ceni ao pedir um pouco de água ao arqueiro e, após uma rápida cobrança de lateral, deu o passe certeiro para Jô abrir o placar.
Ah, poderia pensar: 'sorte de atacante!' Pois bem, seria isso se, quando no início do segundo tempo, após o São Paulo quase empatar, Ronaldinho não tivesse deixado Ganso e Wellington  a ver navios para cruzar na cabeça de Réver que ampliou o placar.
Aí, plagiando os humoristas do Corinthians mil grau (escreve assim errado mesmo) pergunto: Por que faz isso, Ronaldinho? Joga bem e é decisivo no clube, mas não mostra a menor disposição na seleção?
Se jogasse assim com a canarinho, seria o condutor da nossa luta para não passar vergonha na próxima Copa. Então me diz? Por que faz isso, Ronaldinho? Por quê?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Fez bem para o Lucas e pode fazer bem para o Neymar


Tem sido grande o debate sobre a necessidade, ou não, de Neymar atuar na Europa para ganhar mais experiência e, assim, se apresentar melhor na Seleção Brasileira e tentar roubar de Messi o troféu de melhor do mundo.

Lucas fez boas apresentações desde a chegada no PSG
É fato que desde 2009, quando Ronaldo Fenômeno voltou a atuar no Brasil, o campeonato nacional ganhou mais força, competitividade e recursos financeiros. A volta do pentacampeão impulsionou as ações de marketing e o aumento considerável das verbas de patrocínio dos clubes. Além disso, ajudou a fazer com que outros bons jogadores que estavam no exterior vissem no Brasil uma vitrine interessante para a seleção e também para o futebol mundial.

Não é à toa que isso aconteceu. O Brasileirão sempre foi um torneio competitivo diante da força dos grandes clubes de todas as regiões do país e, em pesquisa recente, foi apontado como o segundo campeonato mais forte do mundo. E se olharmos friamente, veremos que temos jogadores de peso atuando por aqui: Fred, Luís Fabiano, Seerdof, Ronaldinho Gaúcho, Paulinho, Neymar, Dedé, entre outros. 

Este cenário é bastante interessante, desde que um atleta tenha apenas como foco chegar à seleção. Agora, no caso de Neymar, que almeja voos maiores – e os merece por ser bom jogador – está passando da hora de ir para a Europa.

Vejamos o caso do Lucas. Por diversas vezes, o jogador foi subestimado no próprio clube e até na seleção brasileira, onde esquentou o banco na era Mano Menezes. No entanto, Lucas era o coração e a alma do São Paulo, que agora se vê sem o toque especial para fazer seu bom elenco deslanchar com confiança.

Sua chegada ao Paris Saint German poderia ter piorado a situação do craque ‘esquecido’. Afinal, o clube francês conta com craques de primeira, como Thiago Silva, Ibrahimović e, agora, David Beckham, só para citar alguns. Mas Lucas foi esperto. Aceitou mudar seu perfil e a jogar coletivamente para ter espaço no time. E deu certo.

Na partida de ontem (12/2) contra o Valencia, pelas oitavas de final da Champions League, Lucas foi essencial para o primeiro gol da equipe francesa. O lance do gol Lavezzi foi criado por Lucas que deu o passe certeiro para o argentino marcar o gol, aos 8 minutos do primeiro tempo. Mas, antes disso, em jogada individual, Lucas já tinha colocado uma bola na trave.

Fora este lance, Lucas marcou e armou bem as jogadas e só saiu de campo no início do segundo tempo por sentir uma lesão no tornozelo. 

O importante é que, desde o primeiro jogo com a camisa do PSG, Lucas entendeu que não poderia ser individualista. O futebol na Europa cobra mais o coletivismo que vemos hoje em equipes como Fluminense e Corinthians no Brasil. E assim, o atleta evoluiu.

Diante disso, chego à conclusão de que Lucas acertou em escolher o momento para jogar em gramados internacionais. E penso que está passando a hora de Neymar fazer o mesmo.

Vemos que a joia santista tem tido muita dificuldade em atuar na seleção brasileira, principalmente em jogos com equipes europeias. A mania de cai-cai do atacante permanece e, quando colocado sob pressão – pois todos apostam que ele é a tábua de salvação da seleção – não apresenta o mesmo futebol jogado no clube. E aí que fica a pergunta? Neymar precisa jogar em solo internacional?

Experiência internacional pode ajudar na evolução de Neymar

Sim, precisa. E não porque queremos vê-lo fora do Brasil. Não há prazer algum nisso. Mas se queremos vê-lo brilhar e se tornar um jogador mais eficiente, capaz de um dia ganhar o troféu de melhor do mundo, não há o que fazer. É preciso apostar numa carreira internacional.

Afinal, no exterior, Neymar evoluirá, pois terá contato com atletas das principais seleções e aprenderá a atuar com maturidade e seriedade, deixando de lado o vício de se jogar para cavar faltas. Aprenderá a ter mais malícia e a driblar na hora certa, aperfeiçoando seu futebol.

Pois, se a Europa fez bem a Lucas, por que não pode fazer para Neymar? É bom a gente pensar.



quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

De herói olímpico a vilão da corrupção


Quem tem mais de 30 anos e gosta de esportes, certamente, ficou encantado com a vitória de Aurélio Miguel nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Eu tinha quase 9 anos de idade e, como apaixonada pelo espírito olímpico, acompanhei a competição e chorei quando o brasileiro subiu ao pódio para receber o ouro.

Depois acompanhei bastante a carreira do judoca. Era o principal representante do Brasil nos tatames e tinha um quê daquele herói que toda criança adora ter, embora meu ídolo máximo nesta época fosse o incomparável Ayrton Senna.

Ex-judoca e agora vereador é acusado de receber propina

Nos Jogos de Barcelona, em 1992, Aurélio não avançou às finais e meu coração foi tomado de amor profundo pela Seleção Masculina de Vôlei não pela beleza dos jogadores, mas, principalmente, pelo espírito de luta do time de José Roberto Guimarães. E olha que o Rogério Sampaio ganhou um ouro emocionante naquela olimpíada, sem contar a prata chorada, quase perdida por um erro da organização, do Gustavo Borges.

Mas não pensem que deixei de acompanhar Aurélio Miguel. Sabia que em Atlanta, em 1996, a história seria outra. Confiava no espírito guerreiro dele e foi uma Olimpíada mágica, pois era a última de Oscar, Paula e Hortência – meus ídolos do basquete – mas a primeira de atletas que tinham tudo para brilhar pelo Brasil.

E fui feliz nesses jogos.  Aurélio subiu ao pódio e levou o bronze, encerrando sua participação em Olimpíadas de forma honrada.

Conheci pessoalmente o judoca num evento em 2004, no Parque da Independência, em São Paulo. Pedi um autógrafo, disse que torci muito por ele, mas fui tratada com frieza. Nessa época ele já estava ligado à política e parecia não gostar de ser um ídolo, talvez almejasse ser um líder político, vai entender.

Decepções à parte, continuei acompanhando sua trajetória de longe, já com olhos mais agudos. E, aos poucos, fui percebendo que aquela garra de campeão era usada para outros fins.

E não é que hoje (6/2) acordo com a notícia de que ele, agora vereador, foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por suspeita de receber propina para liberar obras irregulares num shopping da capital? E é triste dizer que não é surpresa!

Há tempos notícias ligadas à corrupção rondam o ex-campeão olímpico. Agora, ele terá que explicar como seu patrimônio cresceu durante seu mandato e ainda desmentir a denúncia do MP.

Não vou cravar que Aurélio é corrupto, pois parto do princípio que todos têm direito à defesa e, cabe aos órgãos competentes julgar se ele está envolvido ou não em falcatruas. Mas revelo que parte da admiração se foi. Diferente acontece quando vejo Romário liderando uma ‘revolta’ com relação à corrupção na política e no esporte.

Acho que os exemplos mostram que nem tudo o que vemos representa a verdade. Romário, que sempre teve fama  de rebelde e malandro é um dos deputados mais assíduos e além de botar a boca no trombone com relação às irregularidades na preparação da Copa e das Olimpíadas, tem feito ótimos projetos para o povo brasileiro, dando um tapa com luva de pelica na cara de quem duvidou de seu potencial política.

E, o Aurélio Miguel, que era um exemplo de bom moço e de ídolo nacional vai no caminho oposto. É, amigos, as aparências enganam...e decepcionam!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Eh, ôô, vida de gado


Os anos passam e nós, torcedores, continuamos a ser tratados como gado aqui no Brasil, seja no estádio de última geração, seja naquele velho de guerra de mais de 50 anos como o Pacaembu.

Como frequentadora assídua posso dizer com propriedade que não é fácil ser torcedor aqui na terra brasilis e se você for do sexo feminino, prepare-se para fortes emoções!

Mineirão mata torcedores de sede e
dirigentes não acham isso grave

Além de pagar caro pelo ingresso, aqui em São Paulo no Paulistão o mais barato custa a bagatela de R$40,00 – e olha que por causa do Fiel Torcedor pago R$19,50 -, somos recebidos com o ‘carinho’ de sempre da polícia que ao nos revistar nos trata como meliantes, sem contar é claro, a constante intimidação da cavalaria que não faz nenhum esforço em evitar que os animais amedrontem quem passa perto deles.

Mas ‘boas’ mesmo são as instalações! ‘Perfeitas’ para receber famílias, crianças e mulheres... só que não. Repletos de banheiros sujos, quando não químicos, pagamos caro para ver o esporte que amamos sem um mínimo de conforto. E nem pense em comer no estádio. Você pagará caríssimo por um copo de refrigerante ou um pacote de salgadinho. Afinal, é lá no estádio que inflação pega em cheio o bolso do torcedor.

No entanto, com a chegada das novas arenas, sejam elas para uso durante a Copa ou não, esperávamos que, pelo menos o ingresso caro seria revertido num serviço de qualidade, oferecendo ao torcedor-gado um mínimo de conforto e segurança.

Mas parece que não vai ser bem assim. Só na última semana vimos dois absurdos em relação a isso. Primeiro na Arena do Grêmio que, à primeira avalanche da torcida cedeu e deixou algumas pessoas feridas. Até certo ponto, a torcida pode levar um cadinho de culpa pelo incidente, mas se o estádio não oferece segurança, você levaria seu filho para assistir um jogo? Acho que não!

Mas pior mesmo foi a reabertura do Mineirão. Estádio da Copa, tão aguardado pela mineirada que estava carente do seu maior palco do futebol. E eis que, em pleno verão, a reabertura do estádio lota com quase 93% de sua capacidade, com ingressos entre R$60,00 e R$120,00, e sem água! Como se o torcedor, um ser vivo, não necessitasse deste bem da natureza enquanto assiste ao futebol em meio ao calor!

Pior é que teve jornal em Minas que teve o descaro de ‘esquecer’ de manchetar o vexame deste evento, enaltecendo o espetáculo futebolístico.

Pobres de nós brasileiros que, além de pagar caro pelo estádio que muitos de nós nunca visitaremos, ainda temos que aguentar a omissão com relação ao caso. E teve dirigente dizendo que a arena ainda está se adaptando! Aí me pergunto: então por que inaugurou?!

Depois o Fenômeno fica bravo quando a imprensa séria rebate as ‘belezas’ da Copa no Brasil. Sabe por que isso acontece? Porque ele vai de camarote e assiste a tudo regado a luxos, muita água e sem pagar nada, enquanto o torcedor comum, aquele que garante a existência dos clubes, continua a ser tratado como gado!