segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Não se fazem mais ídolos como Zé Maria

O ex-lateral direito do Corinthians e da Seleção Brasileira relembra a carreira gloriosa com simplicidade inerente aos grandes craques


 

Assim surgia Super Zé
Quando o menino Zé Maria começou a jogar futebol em Botucatu, interior de São Paulo, nem o maior olheiro poderia adivinhar que ali estava alguém que faria história com as camisas da Seleção Brasileira e do Corinthians, escrevendo com maestria, habilidade e raça uma das mais belas páginas do futebol nacional. Mas esse era o destino do menino, que se tornaria o Super Zé, em bem pouco tempo.
Filho de um ex-jogador de futebol e irmão de outros três atletas, José Maria Rodrigues Alves não sonhava em ser rei dos gramados, mas torneiro mecânico, profissão adotada pelo pai depois de encerrada a carreira futebolística. Ele conta como tudo começou: “eu tive um início de carreira praticamente natural, veio de descendência. Entre 1962 e 1963, tive minha primeira oportunidade na Ferroviária de Botucatu. Estava com 13 para 14 anos e comecei a disputar as categorias de base”.
Como todo garoto, Zé Maria sonhava em ser atacante e marcar muitos gols, mas o destino fez com que o lateral direito faltasse numa partida e ele assumisse a posição como quebra-galho. “Aí praticamente começou a minha carreira, porque eu fixei, gostei da posição e fui me dando bem. Foi essa posição que me deu a titularidade na equipe. Achei que ali era minha posição, pois já tinha um vigor físico privilegiado e, na época, lateral não era tão atacante como hoje, era mais marcador. E eu tinha facilidade [em marcar], até por ser um jogador truculento”.
Dedicado, Zé Maria passou pelas categorias de base e, logo em 1966, chegou à divisão profissional. Embora o futebol ganhasse espaço em sua vida, por determinação dos pais continuava os estudos, fazendo um curso técnico industrial, o qual concluiu.
Logo no primeiro ano na equipe principal Zé Maria foi sondado por outros clubes, entre eles o XV de Piracicaba e a Portuguesa. O clube da capital levou a melhor, contratando o lateral direito em 1967.
A categoria de Zé Maria em campo começou a despertar o interesse da imprensa esportiva, que logo passou a compará-lo com Djalma Santos. “Eu achava absurdo, porque eu era muito mais corredor, jogador de muita raça, muita vibração e o Djalma era um jogador muito técnico. Eu tive a oportunidade de vê-lo jogando pela seleção brasileira  e sabia que era  impossível chegar àquela perfeição que ele tinha de técnica, de marcação, sem contar que ele também apoiava com muita facilidade. Eu agradecia, porque era muito gostoso ser comparado a um grande jogador”, revela Zé Maria.

A amarelinha caiu bem
O fato é que no período em que o ex-lateral esteve em atividade, o Brasil estava bem servido de jogadores e todos os grandes clubes contavam com grandes atletas; Zé Maria estava entre aqueles que conquistariam títulos importantes com a camisa da Seleção Brasileira, que passou a vestir em 1968, pouco depois de servir por três meses ao Vasco da Gama que, apesar do interesse em tê-lo em definitivo, não contou com a boa vontade da Portuguesa, que tentava fazer de sua joia rara da lateral direita um mero patrimônio do clube.
“Minha primeira convocação para a seleção aconteceu quando Aymoré Moreira era o treinador. Eu praticamente comecei a participar de Seleção Brasileira ali, como reserva do Carlos Alberto Torres”, conta o ex-craque.
Sempre como reserva de Carlos Alberto Torres, Zé Maria seguiu no grupo da Seleção Brasileira que foi ao México disputar a Copa do Mundo de 1970. Sem se importar muito com a reserva, o lateral direito torcia pela equipe, como relata: “Acho que a seleção era tão perfeita, que a maioria dos jogadores que estavam no banco torcia para que a seleção ganhasse. Foi uma das únicas vezes, raras vezes, que eu vi isso dentro de uma Seleção Brasileira. Nós que ficávamos fora, fazíamos aquela união, aquela corrente, porque a coisa vinha tão bem que passou a ser uma seleção quase que imbatível”.
De fato, a equipe montada por João Saldanha era sensacional. E nem a saída conturbada do técnico, após desavenças que envolveram o nome do Presidente da República, foi capaz de mudar o clima de união do grupo. “A entrada do Zagallo também deu tranquilidade, porque a Seleção vinha bem, conseguindo os resultados e ele disse que mexeria, como mexeu, e que daria oportunidade a outros jogadores e acabou acertando o time. Acho que não teve influência negativa nenhuma”, revela o ex-jogador.
Campeão do mundo com a Seleção Brasileira em 1970, Zé Maria seguiu vestindo a camisa canarinho até 1978. Em 1974, seguiu para a Copa da Alemanha como titular, mas uma lesão o tirou de sua terceira Copa do Mundo em 1978. O certo é que durante quase 10 anos, Super Zé serviu com dedicação ao país, abusando de sua principal característica: a raça.

O casamento que faltava: Zé Maria e Corinthians
Corintiano desde menino, Zé Maria sonhava em vestir a camisa de seu clube, mas foi o coração alvinegro de seu pai, corintiano roxo, que o levou ao Parque São Jorge, em 1970, logo após a conquista da Copa do Mundo no México com a Seleção Brasileira. “Era um sonho [vestir a camisa do Corinthians]. Quando eu jogava pela Portuguesa, era muito gostoso jogar contra aquela torcida. A Portuguesa tinha meia dúzia de torcedores e o estádio era repleto de torcedores corintianos. Então, a gente queria mostrar alguma coisa, algum valor, para poder um dia, pelo menos, estar do outro lado. Então, veio tudo ao encontro com aquilo que eu sonhava: ir para um grande clube. E aquela torcida me impressionava! Eu falava: ‘quem sabe um dia eu possa ser aplaudido por eles?’. E acabou acontecendo!”.
Mas a transferência para o Corinthians não foi tranquila. A Portuguesa negava-se a vender o passe do atleta, que precisou recorrer à Justiça para mudar de clube. A dificuldade toda estava no fato de ainda não haver a lei do passe e, por conta disso, muitos jogadores ficavam presos aos clubes que detinham seu passe. Sorte do Corinthians e de Zé Maria, que começaram ali uma relação de respeito e amor mútuo.
A fase do Corinthians não era das melhores. Sem conquistar títulos importantes desde 1954, o clube da segunda maior torcida do Brasil amargava uma fila de 16 anos sem conquistas. E Zé Maria sabia que o desafio era grande.
“No começo havia o problema da responsabilidade: você ir para um clube que não ganhava campeonato há muito tempo. Havia aquelas conversas de que quem ia para o Corinthians morria, acabava não aparecendo. Mas eu tinha convicção de que a minha vontade, a disposição que eu tinha e ainda mais depois de conhecer alguns jogadores como o Ado e o Rivellino, que me falavam da infelicidade que tinham de não poder ganhar os campeonatos, me influenciou muito e eu fui com um apetite muito grande”.
O fato é que a sorte não estava ao lado do alvinegro paulista. A cada ano que passava a ausência de títulos permanecia. Em 1974 houve uma chance real de título, mas o Palmeiras levou a melhor na decisão e tirou a oportunidade de o Corinthians colocar um ponto final no jejum. Essa derrota marcou profundamente Zé Maria, como ele mesmo relata: “Acabei ficando praticamente 7 anos sem ganhar [nada]. E foram 7 anos de luta. Algumas decepções, mas eu tive muito mais felicidades. Eu acho que tivemos uma decisão quase ganha em 1974, que perdemos para o Palmeiras e isso marcou a gente de uma forma negativa muito grande”.
A consequência da derrota para o Palmeiras quase põe fim à carreira de Super Zé. “Eu pensei muito em não voltar. Eu tinha uma vergonha tremenda. Pensava: ‘vou voltar agora e fazer o quê?’ Mas aí a volta foi boa. O torcedor respeitosamente aceitou o resultado, embora tivesse uma revolta grande por dentro”. 


Um mar alvinegro no Maracanã
Embora os títulos ainda ficassem pelo caminho, Zé Maria perseguia-os com raça e determinação. Novamente em 1976 o Corinthians teve uma boa chance de encerrar o jejum, mas foi barrado pelo Internacional na final do Campeonato Brasileiro. No entanto, naquele ano, nem os jogadores e nem a torcida ficaram abalados com a derrota, pois pouco antes haviam reconquistado a auto-estima e a força que move o clube, com a “Invasão Corintiana” no Maracanã, no jogo anterior, pela semifinal, contra o Fluminense.
Cerca de 70 mil corintianos dividiram as arquibancadas com a torcida tricolor. Inacreditavelmente, os alvinegros se deslocaram ao Rio de Janeiro para empurrar o time. Marco na história do futebol nacional, nunca mais algo parecido foi visto. E Zé Maria lembra com carinho este momento. “Acho que 1976 veio ao encontro de um monte de coisas. Acho que ele apagou um pouco 1974, porque o torcedor voltou a acreditar, embora nunca tenha abandonado. Em 1976, depois de alguns resultados bastante positivos conseguimos ir quase para a final, aí mudou a mentalidade. Então houve assim aquela auto-estima não só nossa, mas da torcida. Foi uma invasão, que até hoje os próprios cariocas não entendem”.
Ele complementa: “A princípio não [percebemos que havia algo diferente], porque estávamos acostumados com a torcida do Corinthians. Você tinha aquela meia dúzia de torcedores sempre na concentração indo buscar autógrafos. Apenas sentimos que isso estava um pouco demasiado no hotel. Tinha muita bandeira... Quando vimos pela televisão a invasão da praia, aquele negócio todo, falamos: ‘a proporção é muito maior’. Fomos ter essa proporção quando entramos no estádio. Foi um negócio maravilhoso! Parecia que estávamos entrando no Pacaembu ou no Morumbi. A inflamação da torcida, aquela ansiedade de querer o resultado, os torcedores querendo falar com a gente, a imprensa também eufórica. Foi um jogo muito envolvente, muito emocionante e que marcou na história de nós jogadores, marcou na história do clube”.

O título havia ficado pelo caminho, mas a determinação e a raça de Zé Maria não. 1977 surgia como uma esperança e o Corinthians faria as mudanças necessárias para acabar com o sofrimento da torcida.


1977: o ano da glória
Como o próprio Zé Maria relata, a conquista do título em 1977 foi uma consequência natural do trabalho realizado em 1976. “Foi uma sequência quase que natural, porque em 1976 houve aquela festança toda e a torcida estava empolgada. A chegada do Brandão [em 1977] foi um fator muito importante, pois ele fez uma reformulação dentro do clube”.
O trabalho dentro e fora de campo foi redobrado. Zé Maria e seus companheiros queriam aquele título a todo custo. A chegada de Brandão, técnico que havia comandando o Palmeiras de 1974, algoz do alvinegro na disputa do título daquele ano, trazia na bagagem a experiência e a sabedoria necessárias para fazer daquela equipe, que não era brilhante, um time vencedor.
“Nós trabalhamos muito. Ele [Brandão] cobrou muito, não só dentro, como fora de campo. A visão que o Brandão tinha era muito grande. Ele tinha ganho da gente em 1974 e passou algumas informações importantes para a gente de que campeonato não se ganha com euforia, se ganha com luta e dedicação dentro de campo. E nós tivemos um time muito forte, muito unido, que não era um time tecnicamente melhor que a Ponte Preta, mas era um time de muita gana, muita raça e vontade, e que vestiu a camisa, aquela vibração da torcida”, conta Zé Maria.
A final contra a Ponte Preta aconteceu em três jogos emocionantes. O Corinthians venceu a primeira partida, perdeu a segunda e foi para o terceiro jogo dependendo única e exclusivamente de si para vencer. Com a experiência de um grande técnico, Brandão concentrou a equipe logo após a segunda partida e decretou: ‘nós temos mais um jogo. A decisão é quinta-feira’.
Super Zé conta como foi o clima da concentração: “Ficamos concentrados mais um dia. E aí houve muita conversa. Ele [Brandão], muito iluminado, conversava muito com a gente”.
A conversa teve efeito. Depois de um bate e rebate dentro da área, no fim do segundo tempo, Basílio, o Pé-de-Anjo, mandou a bola para o fundo da rede, decretando, enfim, o fim do jejum. O Corinthians e Zé Maria, finalmente, voltavam a ser campeões.
A saudade da torcida em conquistar títulos era tamanha que não houve taça levantada, volta olímpica, nem nada. A festa foi em campo mesmo, e com a torcida, como conta um emocionado Super Zé. “Foi uma festa com a torcida dentro de campo. Nós nem nos preocupamos em pegar a taça, dar a volta olímpica. Os torcedores invadiram [o gramado] e queriam tomar tudo da gente: camiseta, calção, chuteira.... Foi uma invasão total”.
“Acho que foi o marco maior [da minha carreira] aquele campeonato. Eu continuo dizendo: eu fui campeão em 1970 com a seleção, quando eu cheguei foi uma p... festa, uma festa nacional, mas em nível de festa regional, o que a torcida do Corinthians fez e o que a gente ouviu em todo o Brasil foi um negócio impressionante. Acho que lavou a alma. A nossa como jogador, porque fizemos parte da conquista, e a alma do torcedor, que vinha há vinte e tantos anos buscando [o título]. Eu acho que foi uma vitória que até hoje a gente vive dela. Eu já parei há quase 30 anos e 77 é uma marca. É uma marca dentro do clube e eu sou um privilegiado de ter participado”.
O título de campeão paulista de 1977 abriu as portas para novas conquistas, tanto para Zé Maria, quanto para o Corinthians. Dali para frente vieram outros tantos: 1979, 1982 e 1983. E o lateral direito do Corinthians passava a ser a imagem da raça.

1979: o Rei da Raça
Zé Maria viveu grandes momentos com a camisa alvinegra, mas poucos ficaram tão marcados quanto o jogo da final do Campeonato Paulista de 1979.
Como tudo na história do clube do Parque São Jorge, a partida estava dura. Zé Maria, capitão da equipe, sobe numa dividida com um jogador da Ponte Preta e corta o supercílio, que passa a sangrar incessantemente. Aguerrido, Zé Maria obriga o médico a fazer uma sutura para que possa voltar a campo. O próprio craque conta o episódio:
“Na época, era muito difícil o jogador ficar fora por contusão, ainda mais uma coisa que não mexia com a parte física. Houve um corte numa disputa de bola. Mas acho que foi mais aquela vontade de jogar, de querer participar daquela finalíssima [que me fez voltar a campo]. Acho que foi tudo isso. Eu era um jogador que ficava muito pouco fora e dessa vez eu briguei com o médico: ‘faz qualquer negócio aí para eu voltar a jogar’. Naquela época podia, porque não tinha esse problema com o sangue. Ele fez lá um curativo, deu uns pontos, eu voltei, mas infelizmente acabei não indo até o final. [Imagine] você ali querendo ganhar, vendo aquela torcida vibrando, gritando seu nome... É um negócio que só estando lá para saber. E eu só saí [de campo] mesmo porque não tinha condição de ficar porque estava saindo muito sangue, senão, eu iria até o final. Nossa senhora, é um negócio impressionante: a torcida me aplaudir de pé quando eu saí [de campo]”.
Conhecido como o Rei da Raça, Zé Maria foi aplaudido pela torcida, que reconheceu sua garra e determinação. E a imagem deste momento ficou marcada na memória corintiana.

A democracia pede passagem no Parque São Jorge
O fim dos anos de chumbo no Brasil fez repercutir na sociedade o grito pela Anistia, bem como pela volta da democracia.
E o futebol não ficou alheio a isso. Poucos sabem, mas a Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, foi a primeira a estender nas arquibancadas uma faixa com os dizeres: ‘Anistia Ampla, Geral e Irrestrita’, em 12 de fevereiro de 1979, numa partida Corinthians x Santos, no estádio do Morumbi.
Nesse período, a equipe do Corinthians era formada por jogadores com nível intelectual marcante, e essa característica contribuiu para que surgisse na equipe alvinegra um dos movimentos de grande repercussão nacional: a Democracia Corinthiana. E Zé Maria fez parte disso.
Iniciado em 1982, o movimento contou com a adesão de técnico, jogadores e dirigentes, e gerou uma revolução na gestão do futebol, ou seja, um diálogo aberto entre jogadores e comissão técnica, no qual todos participavam das decisões do clube: jogadores, roupeiro, técnico, presidente. O voto de cada um possuía o mesmo valor. Detalhe: em plena Ditadura Militar, o time do povo, com uma das maiores torcidas do país, começava a discutir política e colocar em debate o porquê de uma ditadura, utilizando o futebol como pano de fundo. Segundo o ex-lateral direito, “acho que ela [Democracia Corinthiana] veio também com o movimento popular que existia em busca de um processo político mais democrático. [A Democracia Corinthiana] lavou a alma, porque o jogador passou a ter mais participação dentro do clube. Foi uma abertura que a própria direção deu, por intermédio do Adílson [Monteiro Alves], de o jogador ter participação em contratações, enfim, uma série de coisas. Mas isso só acontece se tiver resultados”.
E os resultados vieram. Nesse período de democratização do futebol – pelo menos no Parque São Jorge – o Corinthians conquistou dois campeonatos paulistas (1982 e 1983) e chegou às fases finais da Taça de Ouro.
Zé Maria lembra com satisfação desse período. “Como os resultados estavam acontecendo, houve lá atos de liberdade. Em vez de você ir lá fora tomar uma cervejinha escondido, sentávamos lá no meio dos torcedores e tomávamos lá uma cervejinha, com responsabilidade. Eu acho que [a Democracia Corinthiana] foi um acontecimento muito válido, que abriu a mente do jogador de futebol, pois ele passou a ser mais participativo, a cobrar mais. Se não fosse a mudança de direção, eu acho que continuaria. Muitas coisas continuaram e muitas coisas os treinadores e os próprios diretores mantiveram porque era bom para o grupo, era bom para o clube, era bom para o time”.
De acordo com algumas personalidades, entre elas a jornalista Marília Gabriela, a Democracia Corinthiana é tida como o momento em que o futebol ficou inteligente. Zé Maria concorda: “acho que o futebol sempre foi inteligente, mas nesse momento se cobrou a inteligência do jogador. O jogador demonstrou ser inteligente, não entrava em campo só para chutar a bola. Eu tinha direito a participar de uma reunião do clube, como nós participamos, tinha direito a me manifestar numa contratação, como a do Leão, então não caía ninguém de paraquedas. Então não havia uma coisa determinada, era tudo definido em grupo e, graças a Deus, foi um sucesso”.
Na esteira desses acontecimentos, Zé Maria tornou-se técnico do Corinthians no ano de 1983, eleito pelo grupo. “Nesse processo democrático aconteceu um monte de coisas. Eu acabei sendo treinador na saída do [Mário] Travaglini. Uma das cabeças pensantes falou: ‘nós estamos há 8 ou 9 rodadas, por que não colocamos o Zé [como treinador]?’. Acabou acontecendo um negócio que eu não esperava, porque eu ainda queria jogar mais um pouco, mas acabei virando treinador. Fui treinador até o encerramento do campeonato. E a gente quase chega, não fosse um resultado negativo do Guarani”.
Nesse mesmo período, Super Zé se candidatou a vereador pela cidade de São Paulo e foi eleito, recebendo cerca de 33 mil votos. Depois de cumprir o mandato, se afastou da política. “Eu conheci o outro lado, um lado que se tivesse oportunidade, jamais voltaria, porque é muito complicado o lado político”, revela.

A última emoção
Após servir à Seleção Brasileira por 10 anos, à Portuguesa por 4 anos e ao Corinthians por 13 anos, a carreira de Zé Maria estava chegando ao fim e, mesmo nos últimos momentos em campo, o craque corintiano pôde sentir a emoção de ser um ídolo incontestável, até para a torcida adversária.
A última partida como jogador aconteceu em 1983, contra o São Caetano, mas para se despedir da Fiel, Zé Maria foi levado ao Morumbi no jogo seguinte: o Derby Corinthians x Palmeiras.
“Fui homenageado nesse jogo contra o Palmeiras. Inclusive o treinador insistiu para que eu jogasse pelo menos meio tempo, mas eu falei não. Foi um negócio impressionante! Na entrada eu dei uma volta olímpica e a torcida do Palmeiras [estava] em pé, me aplaudindo. É um negócio que a gente sente como gratidão, mesmo porque eu nunca tive problemas com jogadores, com a torcida.... E o carinho que você recebe de uma outra torcida é um negócio que gratifica. E essa marca contra o Palmeiras eu tenho registrado. Acho que foi mais um troféu, mais uma vitória não só minha, mas também dos meus companheiros”, relembra emocionado.
Encerrava-se ali a história de um dos maiores ídolos da Nação Corintiana. Em vez de tristeza, Zé Maria deixou um legado: a raça. No entanto, levou consigo a emoção de ser amado pela segunda maior torcida do Brasil,
“A torcida do Corinthians é totalmente diferente. É uma torcida que vai ao extremo pelo clube. Então é difícil você explicar o que é o torcedor corintiano. Ele vai da sobrevida à morte buscando o melhor para o clube. Ele veste a camisa, o branco e preto. É uma torcida vibrante. É uma torcida briguenta, no bom sentido, e ela tem todos os valores positivos de uma torcida. É uma das maiores torcidas do Brasil, senão do mundo. Eu nunca vi coisa igual! É impressionante ver o torcedor, a ansiedade, a vontade, a vaidade do torcedor corintiano, não só no estádio, mas naturalmente, na rua. É uma coisa impressionante. É vibrante! Eu gosto. Vou morrer corintiano!”.

Coisas que só um grande ídolo sabe fazer
Depois de encerrar a carreira, Zé Maria passou a se dedicar ao cuidado de menores infratores na Fundação Casa. Atualmente, é ele quem coordena todas as atividades esportivas da entidade, buscando reabilitar esses jovens por meio da inclusão pelo esporte.
Zé Maria acredita que o esporte seja uma das principais ferramentas de inclusão social e reintegração desses adolescentes à sociedade. “Para eles é o melhor caminho. Eles podem viver uma vida normal participando de todas essas atividades se não saírem para o caminho ruim. Existem muitos caminhos bons dentro do esporte para que eles possam se reintegrar”, comenta.

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