segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Não se fazem mais ídolos como Zé Maria

O ex-lateral direito do Corinthians e da Seleção Brasileira relembra a carreira gloriosa com simplicidade inerente aos grandes craques


 

Assim surgia Super Zé
Quando o menino Zé Maria começou a jogar futebol em Botucatu, interior de São Paulo, nem o maior olheiro poderia adivinhar que ali estava alguém que faria história com as camisas da Seleção Brasileira e do Corinthians, escrevendo com maestria, habilidade e raça uma das mais belas páginas do futebol nacional. Mas esse era o destino do menino, que se tornaria o Super Zé, em bem pouco tempo.
Filho de um ex-jogador de futebol e irmão de outros três atletas, José Maria Rodrigues Alves não sonhava em ser rei dos gramados, mas torneiro mecânico, profissão adotada pelo pai depois de encerrada a carreira futebolística. Ele conta como tudo começou: “eu tive um início de carreira praticamente natural, veio de descendência. Entre 1962 e 1963, tive minha primeira oportunidade na Ferroviária de Botucatu. Estava com 13 para 14 anos e comecei a disputar as categorias de base”.
Como todo garoto, Zé Maria sonhava em ser atacante e marcar muitos gols, mas o destino fez com que o lateral direito faltasse numa partida e ele assumisse a posição como quebra-galho. “Aí praticamente começou a minha carreira, porque eu fixei, gostei da posição e fui me dando bem. Foi essa posição que me deu a titularidade na equipe. Achei que ali era minha posição, pois já tinha um vigor físico privilegiado e, na época, lateral não era tão atacante como hoje, era mais marcador. E eu tinha facilidade [em marcar], até por ser um jogador truculento”.
Dedicado, Zé Maria passou pelas categorias de base e, logo em 1966, chegou à divisão profissional. Embora o futebol ganhasse espaço em sua vida, por determinação dos pais continuava os estudos, fazendo um curso técnico industrial, o qual concluiu.
Logo no primeiro ano na equipe principal Zé Maria foi sondado por outros clubes, entre eles o XV de Piracicaba e a Portuguesa. O clube da capital levou a melhor, contratando o lateral direito em 1967.
A categoria de Zé Maria em campo começou a despertar o interesse da imprensa esportiva, que logo passou a compará-lo com Djalma Santos. “Eu achava absurdo, porque eu era muito mais corredor, jogador de muita raça, muita vibração e o Djalma era um jogador muito técnico. Eu tive a oportunidade de vê-lo jogando pela seleção brasileira  e sabia que era  impossível chegar àquela perfeição que ele tinha de técnica, de marcação, sem contar que ele também apoiava com muita facilidade. Eu agradecia, porque era muito gostoso ser comparado a um grande jogador”, revela Zé Maria.

A amarelinha caiu bem
O fato é que no período em que o ex-lateral esteve em atividade, o Brasil estava bem servido de jogadores e todos os grandes clubes contavam com grandes atletas; Zé Maria estava entre aqueles que conquistariam títulos importantes com a camisa da Seleção Brasileira, que passou a vestir em 1968, pouco depois de servir por três meses ao Vasco da Gama que, apesar do interesse em tê-lo em definitivo, não contou com a boa vontade da Portuguesa, que tentava fazer de sua joia rara da lateral direita um mero patrimônio do clube.
“Minha primeira convocação para a seleção aconteceu quando Aymoré Moreira era o treinador. Eu praticamente comecei a participar de Seleção Brasileira ali, como reserva do Carlos Alberto Torres”, conta o ex-craque.
Sempre como reserva de Carlos Alberto Torres, Zé Maria seguiu no grupo da Seleção Brasileira que foi ao México disputar a Copa do Mundo de 1970. Sem se importar muito com a reserva, o lateral direito torcia pela equipe, como relata: “Acho que a seleção era tão perfeita, que a maioria dos jogadores que estavam no banco torcia para que a seleção ganhasse. Foi uma das únicas vezes, raras vezes, que eu vi isso dentro de uma Seleção Brasileira. Nós que ficávamos fora, fazíamos aquela união, aquela corrente, porque a coisa vinha tão bem que passou a ser uma seleção quase que imbatível”.
De fato, a equipe montada por João Saldanha era sensacional. E nem a saída conturbada do técnico, após desavenças que envolveram o nome do Presidente da República, foi capaz de mudar o clima de união do grupo. “A entrada do Zagallo também deu tranquilidade, porque a Seleção vinha bem, conseguindo os resultados e ele disse que mexeria, como mexeu, e que daria oportunidade a outros jogadores e acabou acertando o time. Acho que não teve influência negativa nenhuma”, revela o ex-jogador.
Campeão do mundo com a Seleção Brasileira em 1970, Zé Maria seguiu vestindo a camisa canarinho até 1978. Em 1974, seguiu para a Copa da Alemanha como titular, mas uma lesão o tirou de sua terceira Copa do Mundo em 1978. O certo é que durante quase 10 anos, Super Zé serviu com dedicação ao país, abusando de sua principal característica: a raça.

O casamento que faltava: Zé Maria e Corinthians
Corintiano desde menino, Zé Maria sonhava em vestir a camisa de seu clube, mas foi o coração alvinegro de seu pai, corintiano roxo, que o levou ao Parque São Jorge, em 1970, logo após a conquista da Copa do Mundo no México com a Seleção Brasileira. “Era um sonho [vestir a camisa do Corinthians]. Quando eu jogava pela Portuguesa, era muito gostoso jogar contra aquela torcida. A Portuguesa tinha meia dúzia de torcedores e o estádio era repleto de torcedores corintianos. Então, a gente queria mostrar alguma coisa, algum valor, para poder um dia, pelo menos, estar do outro lado. Então, veio tudo ao encontro com aquilo que eu sonhava: ir para um grande clube. E aquela torcida me impressionava! Eu falava: ‘quem sabe um dia eu possa ser aplaudido por eles?’. E acabou acontecendo!”.
Mas a transferência para o Corinthians não foi tranquila. A Portuguesa negava-se a vender o passe do atleta, que precisou recorrer à Justiça para mudar de clube. A dificuldade toda estava no fato de ainda não haver a lei do passe e, por conta disso, muitos jogadores ficavam presos aos clubes que detinham seu passe. Sorte do Corinthians e de Zé Maria, que começaram ali uma relação de respeito e amor mútuo.
A fase do Corinthians não era das melhores. Sem conquistar títulos importantes desde 1954, o clube da segunda maior torcida do Brasil amargava uma fila de 16 anos sem conquistas. E Zé Maria sabia que o desafio era grande.
“No começo havia o problema da responsabilidade: você ir para um clube que não ganhava campeonato há muito tempo. Havia aquelas conversas de que quem ia para o Corinthians morria, acabava não aparecendo. Mas eu tinha convicção de que a minha vontade, a disposição que eu tinha e ainda mais depois de conhecer alguns jogadores como o Ado e o Rivellino, que me falavam da infelicidade que tinham de não poder ganhar os campeonatos, me influenciou muito e eu fui com um apetite muito grande”.
O fato é que a sorte não estava ao lado do alvinegro paulista. A cada ano que passava a ausência de títulos permanecia. Em 1974 houve uma chance real de título, mas o Palmeiras levou a melhor na decisão e tirou a oportunidade de o Corinthians colocar um ponto final no jejum. Essa derrota marcou profundamente Zé Maria, como ele mesmo relata: “Acabei ficando praticamente 7 anos sem ganhar [nada]. E foram 7 anos de luta. Algumas decepções, mas eu tive muito mais felicidades. Eu acho que tivemos uma decisão quase ganha em 1974, que perdemos para o Palmeiras e isso marcou a gente de uma forma negativa muito grande”.
A consequência da derrota para o Palmeiras quase põe fim à carreira de Super Zé. “Eu pensei muito em não voltar. Eu tinha uma vergonha tremenda. Pensava: ‘vou voltar agora e fazer o quê?’ Mas aí a volta foi boa. O torcedor respeitosamente aceitou o resultado, embora tivesse uma revolta grande por dentro”. 


Um mar alvinegro no Maracanã
Embora os títulos ainda ficassem pelo caminho, Zé Maria perseguia-os com raça e determinação. Novamente em 1976 o Corinthians teve uma boa chance de encerrar o jejum, mas foi barrado pelo Internacional na final do Campeonato Brasileiro. No entanto, naquele ano, nem os jogadores e nem a torcida ficaram abalados com a derrota, pois pouco antes haviam reconquistado a auto-estima e a força que move o clube, com a “Invasão Corintiana” no Maracanã, no jogo anterior, pela semifinal, contra o Fluminense.
Cerca de 70 mil corintianos dividiram as arquibancadas com a torcida tricolor. Inacreditavelmente, os alvinegros se deslocaram ao Rio de Janeiro para empurrar o time. Marco na história do futebol nacional, nunca mais algo parecido foi visto. E Zé Maria lembra com carinho este momento. “Acho que 1976 veio ao encontro de um monte de coisas. Acho que ele apagou um pouco 1974, porque o torcedor voltou a acreditar, embora nunca tenha abandonado. Em 1976, depois de alguns resultados bastante positivos conseguimos ir quase para a final, aí mudou a mentalidade. Então houve assim aquela auto-estima não só nossa, mas da torcida. Foi uma invasão, que até hoje os próprios cariocas não entendem”.
Ele complementa: “A princípio não [percebemos que havia algo diferente], porque estávamos acostumados com a torcida do Corinthians. Você tinha aquela meia dúzia de torcedores sempre na concentração indo buscar autógrafos. Apenas sentimos que isso estava um pouco demasiado no hotel. Tinha muita bandeira... Quando vimos pela televisão a invasão da praia, aquele negócio todo, falamos: ‘a proporção é muito maior’. Fomos ter essa proporção quando entramos no estádio. Foi um negócio maravilhoso! Parecia que estávamos entrando no Pacaembu ou no Morumbi. A inflamação da torcida, aquela ansiedade de querer o resultado, os torcedores querendo falar com a gente, a imprensa também eufórica. Foi um jogo muito envolvente, muito emocionante e que marcou na história de nós jogadores, marcou na história do clube”.

O título havia ficado pelo caminho, mas a determinação e a raça de Zé Maria não. 1977 surgia como uma esperança e o Corinthians faria as mudanças necessárias para acabar com o sofrimento da torcida.


1977: o ano da glória
Como o próprio Zé Maria relata, a conquista do título em 1977 foi uma consequência natural do trabalho realizado em 1976. “Foi uma sequência quase que natural, porque em 1976 houve aquela festança toda e a torcida estava empolgada. A chegada do Brandão [em 1977] foi um fator muito importante, pois ele fez uma reformulação dentro do clube”.
O trabalho dentro e fora de campo foi redobrado. Zé Maria e seus companheiros queriam aquele título a todo custo. A chegada de Brandão, técnico que havia comandando o Palmeiras de 1974, algoz do alvinegro na disputa do título daquele ano, trazia na bagagem a experiência e a sabedoria necessárias para fazer daquela equipe, que não era brilhante, um time vencedor.
“Nós trabalhamos muito. Ele [Brandão] cobrou muito, não só dentro, como fora de campo. A visão que o Brandão tinha era muito grande. Ele tinha ganho da gente em 1974 e passou algumas informações importantes para a gente de que campeonato não se ganha com euforia, se ganha com luta e dedicação dentro de campo. E nós tivemos um time muito forte, muito unido, que não era um time tecnicamente melhor que a Ponte Preta, mas era um time de muita gana, muita raça e vontade, e que vestiu a camisa, aquela vibração da torcida”, conta Zé Maria.
A final contra a Ponte Preta aconteceu em três jogos emocionantes. O Corinthians venceu a primeira partida, perdeu a segunda e foi para o terceiro jogo dependendo única e exclusivamente de si para vencer. Com a experiência de um grande técnico, Brandão concentrou a equipe logo após a segunda partida e decretou: ‘nós temos mais um jogo. A decisão é quinta-feira’.
Super Zé conta como foi o clima da concentração: “Ficamos concentrados mais um dia. E aí houve muita conversa. Ele [Brandão], muito iluminado, conversava muito com a gente”.
A conversa teve efeito. Depois de um bate e rebate dentro da área, no fim do segundo tempo, Basílio, o Pé-de-Anjo, mandou a bola para o fundo da rede, decretando, enfim, o fim do jejum. O Corinthians e Zé Maria, finalmente, voltavam a ser campeões.
A saudade da torcida em conquistar títulos era tamanha que não houve taça levantada, volta olímpica, nem nada. A festa foi em campo mesmo, e com a torcida, como conta um emocionado Super Zé. “Foi uma festa com a torcida dentro de campo. Nós nem nos preocupamos em pegar a taça, dar a volta olímpica. Os torcedores invadiram [o gramado] e queriam tomar tudo da gente: camiseta, calção, chuteira.... Foi uma invasão total”.
“Acho que foi o marco maior [da minha carreira] aquele campeonato. Eu continuo dizendo: eu fui campeão em 1970 com a seleção, quando eu cheguei foi uma p... festa, uma festa nacional, mas em nível de festa regional, o que a torcida do Corinthians fez e o que a gente ouviu em todo o Brasil foi um negócio impressionante. Acho que lavou a alma. A nossa como jogador, porque fizemos parte da conquista, e a alma do torcedor, que vinha há vinte e tantos anos buscando [o título]. Eu acho que foi uma vitória que até hoje a gente vive dela. Eu já parei há quase 30 anos e 77 é uma marca. É uma marca dentro do clube e eu sou um privilegiado de ter participado”.
O título de campeão paulista de 1977 abriu as portas para novas conquistas, tanto para Zé Maria, quanto para o Corinthians. Dali para frente vieram outros tantos: 1979, 1982 e 1983. E o lateral direito do Corinthians passava a ser a imagem da raça.

1979: o Rei da Raça
Zé Maria viveu grandes momentos com a camisa alvinegra, mas poucos ficaram tão marcados quanto o jogo da final do Campeonato Paulista de 1979.
Como tudo na história do clube do Parque São Jorge, a partida estava dura. Zé Maria, capitão da equipe, sobe numa dividida com um jogador da Ponte Preta e corta o supercílio, que passa a sangrar incessantemente. Aguerrido, Zé Maria obriga o médico a fazer uma sutura para que possa voltar a campo. O próprio craque conta o episódio:
“Na época, era muito difícil o jogador ficar fora por contusão, ainda mais uma coisa que não mexia com a parte física. Houve um corte numa disputa de bola. Mas acho que foi mais aquela vontade de jogar, de querer participar daquela finalíssima [que me fez voltar a campo]. Acho que foi tudo isso. Eu era um jogador que ficava muito pouco fora e dessa vez eu briguei com o médico: ‘faz qualquer negócio aí para eu voltar a jogar’. Naquela época podia, porque não tinha esse problema com o sangue. Ele fez lá um curativo, deu uns pontos, eu voltei, mas infelizmente acabei não indo até o final. [Imagine] você ali querendo ganhar, vendo aquela torcida vibrando, gritando seu nome... É um negócio que só estando lá para saber. E eu só saí [de campo] mesmo porque não tinha condição de ficar porque estava saindo muito sangue, senão, eu iria até o final. Nossa senhora, é um negócio impressionante: a torcida me aplaudir de pé quando eu saí [de campo]”.
Conhecido como o Rei da Raça, Zé Maria foi aplaudido pela torcida, que reconheceu sua garra e determinação. E a imagem deste momento ficou marcada na memória corintiana.

A democracia pede passagem no Parque São Jorge
O fim dos anos de chumbo no Brasil fez repercutir na sociedade o grito pela Anistia, bem como pela volta da democracia.
E o futebol não ficou alheio a isso. Poucos sabem, mas a Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, foi a primeira a estender nas arquibancadas uma faixa com os dizeres: ‘Anistia Ampla, Geral e Irrestrita’, em 12 de fevereiro de 1979, numa partida Corinthians x Santos, no estádio do Morumbi.
Nesse período, a equipe do Corinthians era formada por jogadores com nível intelectual marcante, e essa característica contribuiu para que surgisse na equipe alvinegra um dos movimentos de grande repercussão nacional: a Democracia Corinthiana. E Zé Maria fez parte disso.
Iniciado em 1982, o movimento contou com a adesão de técnico, jogadores e dirigentes, e gerou uma revolução na gestão do futebol, ou seja, um diálogo aberto entre jogadores e comissão técnica, no qual todos participavam das decisões do clube: jogadores, roupeiro, técnico, presidente. O voto de cada um possuía o mesmo valor. Detalhe: em plena Ditadura Militar, o time do povo, com uma das maiores torcidas do país, começava a discutir política e colocar em debate o porquê de uma ditadura, utilizando o futebol como pano de fundo. Segundo o ex-lateral direito, “acho que ela [Democracia Corinthiana] veio também com o movimento popular que existia em busca de um processo político mais democrático. [A Democracia Corinthiana] lavou a alma, porque o jogador passou a ter mais participação dentro do clube. Foi uma abertura que a própria direção deu, por intermédio do Adílson [Monteiro Alves], de o jogador ter participação em contratações, enfim, uma série de coisas. Mas isso só acontece se tiver resultados”.
E os resultados vieram. Nesse período de democratização do futebol – pelo menos no Parque São Jorge – o Corinthians conquistou dois campeonatos paulistas (1982 e 1983) e chegou às fases finais da Taça de Ouro.
Zé Maria lembra com satisfação desse período. “Como os resultados estavam acontecendo, houve lá atos de liberdade. Em vez de você ir lá fora tomar uma cervejinha escondido, sentávamos lá no meio dos torcedores e tomávamos lá uma cervejinha, com responsabilidade. Eu acho que [a Democracia Corinthiana] foi um acontecimento muito válido, que abriu a mente do jogador de futebol, pois ele passou a ser mais participativo, a cobrar mais. Se não fosse a mudança de direção, eu acho que continuaria. Muitas coisas continuaram e muitas coisas os treinadores e os próprios diretores mantiveram porque era bom para o grupo, era bom para o clube, era bom para o time”.
De acordo com algumas personalidades, entre elas a jornalista Marília Gabriela, a Democracia Corinthiana é tida como o momento em que o futebol ficou inteligente. Zé Maria concorda: “acho que o futebol sempre foi inteligente, mas nesse momento se cobrou a inteligência do jogador. O jogador demonstrou ser inteligente, não entrava em campo só para chutar a bola. Eu tinha direito a participar de uma reunião do clube, como nós participamos, tinha direito a me manifestar numa contratação, como a do Leão, então não caía ninguém de paraquedas. Então não havia uma coisa determinada, era tudo definido em grupo e, graças a Deus, foi um sucesso”.
Na esteira desses acontecimentos, Zé Maria tornou-se técnico do Corinthians no ano de 1983, eleito pelo grupo. “Nesse processo democrático aconteceu um monte de coisas. Eu acabei sendo treinador na saída do [Mário] Travaglini. Uma das cabeças pensantes falou: ‘nós estamos há 8 ou 9 rodadas, por que não colocamos o Zé [como treinador]?’. Acabou acontecendo um negócio que eu não esperava, porque eu ainda queria jogar mais um pouco, mas acabei virando treinador. Fui treinador até o encerramento do campeonato. E a gente quase chega, não fosse um resultado negativo do Guarani”.
Nesse mesmo período, Super Zé se candidatou a vereador pela cidade de São Paulo e foi eleito, recebendo cerca de 33 mil votos. Depois de cumprir o mandato, se afastou da política. “Eu conheci o outro lado, um lado que se tivesse oportunidade, jamais voltaria, porque é muito complicado o lado político”, revela.

A última emoção
Após servir à Seleção Brasileira por 10 anos, à Portuguesa por 4 anos e ao Corinthians por 13 anos, a carreira de Zé Maria estava chegando ao fim e, mesmo nos últimos momentos em campo, o craque corintiano pôde sentir a emoção de ser um ídolo incontestável, até para a torcida adversária.
A última partida como jogador aconteceu em 1983, contra o São Caetano, mas para se despedir da Fiel, Zé Maria foi levado ao Morumbi no jogo seguinte: o Derby Corinthians x Palmeiras.
“Fui homenageado nesse jogo contra o Palmeiras. Inclusive o treinador insistiu para que eu jogasse pelo menos meio tempo, mas eu falei não. Foi um negócio impressionante! Na entrada eu dei uma volta olímpica e a torcida do Palmeiras [estava] em pé, me aplaudindo. É um negócio que a gente sente como gratidão, mesmo porque eu nunca tive problemas com jogadores, com a torcida.... E o carinho que você recebe de uma outra torcida é um negócio que gratifica. E essa marca contra o Palmeiras eu tenho registrado. Acho que foi mais um troféu, mais uma vitória não só minha, mas também dos meus companheiros”, relembra emocionado.
Encerrava-se ali a história de um dos maiores ídolos da Nação Corintiana. Em vez de tristeza, Zé Maria deixou um legado: a raça. No entanto, levou consigo a emoção de ser amado pela segunda maior torcida do Brasil,
“A torcida do Corinthians é totalmente diferente. É uma torcida que vai ao extremo pelo clube. Então é difícil você explicar o que é o torcedor corintiano. Ele vai da sobrevida à morte buscando o melhor para o clube. Ele veste a camisa, o branco e preto. É uma torcida vibrante. É uma torcida briguenta, no bom sentido, e ela tem todos os valores positivos de uma torcida. É uma das maiores torcidas do Brasil, senão do mundo. Eu nunca vi coisa igual! É impressionante ver o torcedor, a ansiedade, a vontade, a vaidade do torcedor corintiano, não só no estádio, mas naturalmente, na rua. É uma coisa impressionante. É vibrante! Eu gosto. Vou morrer corintiano!”.

Coisas que só um grande ídolo sabe fazer
Depois de encerrar a carreira, Zé Maria passou a se dedicar ao cuidado de menores infratores na Fundação Casa. Atualmente, é ele quem coordena todas as atividades esportivas da entidade, buscando reabilitar esses jovens por meio da inclusão pelo esporte.
Zé Maria acredita que o esporte seja uma das principais ferramentas de inclusão social e reintegração desses adolescentes à sociedade. “Para eles é o melhor caminho. Eles podem viver uma vida normal participando de todas essas atividades se não saírem para o caminho ruim. Existem muitos caminhos bons dentro do esporte para que eles possam se reintegrar”, comenta.

domingo, 23 de outubro de 2011

Cristiano Ronaldo: ame-o e conheça-o!


Cristiano Ronaldo é, indiscutivelmente, um craque. Discutível, para alguns, apenas sua postura dentro e fora dos campos. No entanto, nada disso muda sua qualidade dentro de campo.
 
Nesta nova temporada do campeonato espanhol, Cristiano Ronaldo continua travando uma briga paralela com Lionel Messi para saber quem faz gols ou quem será eleito o melhor jogador do mundo.

No último sábado, Cristiano Ronaldo levou a melhor. Marcou três dos quatro gols do Real Madri contra o Málaga. O terceiro tento, um gol de chaleira, foi uma pintura. Além da vitória, Cristiano Ronaldo viu o Real Madri ultrapassar o Barcelona e assumir a liderança na 9ª rodada do Campeonato Espanhol.

Para muitos, seria um sonho ter a chance de ir à Madri e acompanhar um jogo do craque português. E agora este sonho pode se tornar realidade!

Onze sortudos poderão viajar para Madri e passar dois dias acompanhando a rotina do centroavante Cristiano Ronaldo. Basta participar  da uma competição virtual que vai escolher quem serão os coadjuvantes do astro português durante o lançamento da nova coleção de produtos Nike Futebol, a CR Collection, desenhada sob o comando do astro. Um dos integrantes dos 11 titulares será escolhido no Brasil.

 De domingo (23) a terça-feira (25), todos os jovens apaixonados por futebol terão a chance de mostrar agilidade nas redes sociais e qualidade com a bola nos pés para conquistar uma dessas vagas. 

Funciona assim: durante dois dias, Cristiano Ronaldo vai lançar seis desafios em seu Twitter pessoal, @Cristiano. Esses mesmos desafios também estarão disponíveis nos canais oficiais de futebol da Nike: www.twitter.com/nikefutebol, www.facebook.com/nikefutebol e nikefutebol.com. Lá estarão o mapa da mina, a mecânica da competição e o regulamento completo do desafio, chamado CR Flash Trial.  

Os interessados deverão responder aos desafios propostos pelo craque por meio de texto, foto ou vídeo, sempre usando a hashtag #CR7flashtrial , seguida de #bra.

Os vencedores serão escolhidos por uma comissão técnica que inclui o próprio Cristiano Ronaldo. Os jurados levarão em conta não apenas a velocidade da resposta, mas também a originalidade e qualidade delas. Os escolhidos terão a chance de passar 48 horas na capital espanhola e conhecer de perto a rotina do boleiro. Durante esse período, ainda vão participar de uma sessão de treinamento com o ídolo, almoçar com ele e acompanhar o lançamento da coleção de produtos Nike que leva sua assinatura. Legaal, né?

Então corra! Agilidade e criatividade são a chave para conhecer Cristiano Ronaldo. Bora participar?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Adhemar, o ‘canhão’ do Azulão, acha precoce Copa no Brasil em 2014

Ex-atacante também revela curiosidades de sua carreira, como um contrato com o São Paulo e o que deu errado em sua passagem pelo Corinthians, e conta com orgulho tudo sobre seu projeto ‘Bom de Bola, Bom na Escola’

Por Fernanda Guarda Ribeiro



Um dos grandes personagens da história do futebol brasileiro, que jogou nos tempos de ouro do São Caetano, Adhemar Ferreira Neto, mais conhecido como ‘Canhão’ pela potência de seu chute de perna direita, revela em entrevista exclusiva que acha um erro a Copa do Mundo ser sediada no Brasil em 2014. O motivo seria a falta de preparo no gerenciamento do futebol nacional. “Acho que poderíamos esperar um pouco mais até estarmos mais preparados para receber um evento desse porte. Claro que como adorador do futebol acho o máximo poder vivenciar uma Copa do Mundo de perto, mas, não concordo com a decisão para 2014”, disse o ex-atacante, que não se conforma, por exemplo, com a construção de um estádio na região do Amazonas. “Nem existe um campeonato de futebol lá! É um gasto sem necessidade. Deveriam investir mais nas grandes capitais que sempre vão ter torcida sobrando, como São Paulo e Rio de Janeiro.” 

FALTA DE ORGANIZAÇÃO PODE RELEMBRAR CASO DE SÃO JANUÁRIO
Adhemar compara a triste situação que viveu em 2000, durante um jogo da final da Copa João Havelange contra o Vasco, em que o alambrado do estádio São Januário desabou e deixou muitos feridos.  “Nunca provaram o que realmente causou aquele acidente, mas eu acredito que foi a superlotação do estádio. Sempre existe o jeitinho brasileiro que deixa você assistir a uma partida de futebol mesmo sem ter ingresso, porque conhece um amigo daqui, outro dali. E isso não pode existir na Copa do Mundo. A organização tem que ser bastante rígida”, opina. Relembrando sobre esta partida contra o Vasco, Adhemar confessa que lhe traz tristeza e fala sobre sua convicção de que o cancelamento do jogo – por causada queda do alambrado - e a remarcação de uma nova partida prejudicou o São Caetano na época e por isso eles foram vice-campões do torneio. “Vem um filme em minha cabeça quando lembro disso. Vejo as pessoas machucadas, crianças, e o Eurico Miranda – Vice-Presidente do Vasco na época - enxotando essas pessoas para fora do campo para o jogo poder continuar. Fomos sim prejudicados, pois quase o time todo estava já vendido para outros clubes no dia da nova partida. Tivemos que fazer seguro, caso sofrêssemos alguma lesão, ou seja, estávamos com a cabeça diferente, em outro lugar, e isso atrapalhou muito a concentração para o jogo.”

ADHEMAR CHEGOU A ASSINAR CONTRATO COM O SÃO PAULO
Mas essa é apenas uma lembrança ruim perto das várias recordações boas que Adhemar tem de sua brilhante carreira, como no caso do inesquecível jogo do Azulão contra o Fluminense pela Copa João Havelange, em 2000. Adhemar relembra que naquela semana respondeu a um jornalista sobre qual era o presente de debutante - já que era a primeira vez que ele jogaria no Maracanã - que ele gostaria de ganhar. Sua resposta foi: “Vencer com um gol meu.” E foi exatamente isso que aconteceu, Adhemar, que não era do tipo de jogador supersticioso e até tirava sarro dos colegas que acreditavam que usar a mesma sunga todo jogo traria sorte, por exemplo, entrou em campo inspirado. “Não acredito em superstição não! Eu bagunçava tudo (risos)! Jogava a sunga fora, brincava com os jogadores que tinham rituais (risos). Para mim, cabeça tranquila e concentração é que eram essenciais. Antes daquela partida todos nós estávamos maravilhados com o Maracanã, principalmente com o vestiário, que tinha grama sintética para aquecermos e batermos uma bolinha antes de entrar em campo. Nunca tínhamos visto nada parecido! Mas eu me policiei para não entrar muito nessa onda de deslumbramento e me concentrar apenas no jogo.” O resultado desse comportamento foi positivo e trouxe a tão sonhada vaga para as quartas de final da Copa João Havelange para o São Caetano naquele ano.
No Brasil, Adhemar realmente só se destacou no São Caetano, não jogando em nenhum clube da elite do futebol Paulista ou de outros estados. Mas o ex-atacante revelou que chegou a assinar contrato com o São Paulo Futebol Clube, depois de sua explosão, em 2000. “Poucos sabem, acho que nunca contei isso para nenhum jornalista, mas eu já estava praticamente acertado com o São Paulo. Faltava apenas um detalhe no acordo entre as diretorias dos dois clubes. Mas a preocupação com minha independência financeira pelo fato de eu já ter 28 anos falou mais alto e eu preferi ir à Alemanha, jogar pelo Stuttgart, pois lá ganharia o mesmo salário que no São Paulo só que em dólares.” 

O FURÚNCULO QUE ATRAPALHOU PROFISSIONALIZAÇÃO NO CORINTHIANS
Adhemar Ferreira Neto teve seu primeiro contato com o futebol em 1988, pelo Clube Saltense, mas nesta época nem pensava em ser jogador profissional. Prestou serviço militar nesse período e tinha decidido que ia se dedicar ao militarismo. Mas o regime rígido do ambiente fez com que Adhemar mudasse de ideia e contribuiu para que um grande talento do futebol brasileiro não fosse desperdiçado.  Em 1990 foi convidado por um amigo que jogava com ele na várzea para fazer parte da equipe de juniores do Estrela de Porto Feliz, e foi aí que ele decidiu se dedicar ao futebol. “Não vou ser hipócrita, nunca passou pela minha cabeça chegar aonde eu cheguei.” Adhemar atuou durante três anos no Estrela e carrega um fato bastante curioso que fez sua vida mudar completamente. “Pouco antes de um jogo da equipe profissional do Estrela, o furúnculo do centroavante do time expeliu e eu era o único atacante disponível no elenco do clube. Nesse momento esse furúnculo me ajudou! (risos).”
O seu bom desempenho no clube do interior paulista trouxe um reconhecimento e ele foi chamado para jogar pelos aspirantes de um dos maiores clubes paulistas, o grande Corinthians, em 1993. Mas é aí que se explica o porque o tal furúnculo o atrapalhou e porque ele não se profissionalizou no Timão. “Eu fui bem na equipe dos aspirantes do Corinthians. Todos do time foram, tanto que todos subiram para o profissional, menos eu, que não pude jogar a Taça São Paulo. Isso porque nas regras da época, o jogador que já tivesse atuado como profissional em qualquer clube não podia participar do campeonato. É, o furúnculo me atrapalhou também (risos).” 

IDADE AVANÇADA FOI POSITIVA PARA ADMINISTRAÇÃO DA CARREIRA
Depois de uma passagem rápida pelo São Bento, Adhemar chegou ao São Caetano, em 1996, quando o time estava em uma má fase e a gestão do clube tinha acabado de ser mudada.  As temporadas de 1996 e 1997 foram ruins para o São Caetano e Adhemar acabou sendo emprestado ao Ponta Grossa, do Paraná, em 1998. Somente com 28 anos, em 2000, quando voltou ao São Caetano, que sua carreira começou a decolar. O ‘Canhão’ surgiu e por isso Adhemar pode ser considerado um guerreiro e batalhador. “Deus que preparou o meu sucesso, pois realmente eu já estava com uma idade que para o futebol já é avançada. O meu treinador no Stuttgart mesmo ficou assustado quando soube quantos anos eu tinha e me perguntou de primeira e que eu estava fazendo ali.”
Mas Adhemar enxerga que seus 28 anos contribuíram muito para seu sucesso.  A maturidade foi um fator essencial para saber lidar com certas situações que a vida de jogador de futebol proporciona. “Eu já era casado, tinha filho e soube administrar a carreira. Tinha dias que havia gravações de três programas ao vivo diferentes na minha casa! E eu lidei bem com isso. Acho que se fosse mais novo seria diferente.” Adhemar relembra que a rotina entre o trabalho e a família foi complicada, mas, ele conseguiu driblar o pouco tempo e conseguia realizar as muitas tarefas como, treino, entrevistas, e dar atenção ao seu filho, justamente por ser mais velho. “Eu tinha serenidade para tomar decisões. Cheguei até a dar dicas para repórteres jovens que vinham me entrevistar apenas com uma pequena câmera de mão e sem nenhuma bagagem. Aquele garoto que está hoje no CQC, da Band, o Felipe Andreolli, foi um deles! Eu me sentia seguro para lhe dar dicas de perguntas e de enquadramento. Se eu fosse mais jovem ficaria tão perdido quanto ele no começo de sua carreira (risos).”
Geralmente o que mais muda na carreira de um jogador de futebol de sucesso é a falta de privacidade que vem com o reconhecimento. Com Adhemar não foi diferente. “O sucesso para mim tem dois lados, o prazer de ser reconhecido, pois mesmo de boné, em qualquer lugar que eu fosse sabiam quem eu era e me abordavam, mas, também perdi um pouco minha privacidade.” Além de seu reconhecimento no Brasil, quando foi para a Alemanha também era famoso. Outra dificuldade que Adhemar superou facilmente por ser um pouco mais velho foi o aprendizado de outros idiomas enquanto estava no exterior. “Eu percebi que era importante eu me libertar do tradutor um pouco. Todo jogador deve ter interesse em estudar e aprender novos idiomas. Isso é algo de muito positivo que o futebol proporciona ao jogador.”
- Mas e na Coréia e no Japão, quando jogou pelo Seognam Chunma (2004) e Yokohama Marinos (2005), respectivamente, aprendeu a falar essas línguas também Adhemar? “Ah aí não teve jeito (risos)! Eu precisei realmente do tradutor!”

A FALTA DE INFORMAÇÃO E DE UM BOM EMPRESÁRIO
            Apesar de já ser mais velho, a falta de informação e da profissionalização dos empresários e gestores de carreiras de jogadores da época, atrapalhou um pouco Adhemar. Quando assinou o contrato com o Stuttgart, em 2001, se preocupou apenas com o salário e não com as leis do país que estava indo morar. “Eu não sabia que na Alemanha 50% do imposto é retido na fonte. Ou seja, eu tive que pagar boa parte do meu salário para o governo e isso me prejudicou um pouco.” Adhemar aproveita para dar exemplos de jogadores em ascensão atuais que devem pensar bem antes de irem à Europa. “O Neymar, por exemplo, se for para algum time estrangeiro terá que pagar uma carta tributária alta, portanto, ele precisa ganhar mais que o dobro que ganha no Santos para compensar.” Porém, o ‘Canhão’ acredita que atualmente há melhores profissionais cuidando das carreiras desses jogadores, além da internet, que ajuda muito para se obter informações. “Hoje você procura por um time na internet e aparece tudo sobre ele. Na minha época não existia isso. Só quando eu cheguei na Alemanha que descobri que o Stuttgart estava quase rebaixado. Na hora da assinatura do contrato apenas falaram para mim que o time estava em uma má fase.” 

O NASCIMENTO DE UM TORCEDOR APAIXONADO PELO AZULÃO
Com 68 gols, Adhemar é até hoje o artilheiro da história do São Caetano e confessa que por causa de tudo que viveu no clube criou um carinho por ele e se tornou um torcedor. “As dificuldade que nós tínhamos na época, a forma como tudo aconteceu, criou um sentimento. Eu torço sim pelo São Caetano e até hoje tenho contato com o pessoal de lá, sempre que posso vou ao clube. Estou até triste com a situação que a gente se encontra”, desabafa Adhemar, sobre a má fase do São Caetano que disputa a Série B do Campeonato Brasileiro.
Para o ex-jogador, não foram mais revelados craques como ele pelo Azulão devido a falta de identificação que os jogadores têm hoje com os clubes. “Eu fiquei quase 10 anos no São Caetano, contando minhas idas e vindas. São poucos que fazem isso hoje. A maioria dos jogadores faz uma boa temporada em um clube e já são transferidos.” O eterno ‘Canhão’ do Azulão revelou que sonha em um dia ser Presidente do clube. “Quero aprender mais sobre gerenciamento, toda a parte burocrática, saber como lidar melhor com jogadores e depois quero sim ir atrás para me candidatar Presidente.”
– E o que a diretoria do São Caetano pensa sobre isso? “Ah eu nunca falei diretamente para eles, somente para a imprensa. Acho que se eu falar pode atrapalhar”, arrisca.   

O MISTÉRIO DO HIPERTIREOIDISMO  
O fim da carreira de Adhemar como jogador profissional se deu em 2006, com 35 anos,  quando ele começou a perder muito peso jogando no Japão e, ao voltar para o Brasil, foi detectado que ele tinha hipertireoidismo. A descoberta da doença abalou muito Adhemar, que não pretendia parar naquela época. “Eu queria continuar, mas tinha medo, pois meu coração ficava muito acelerado.” O caso de Adhemar é até hoje raro no futebol, já que a maioria dos jogadores apresenta hipotireoidismo – como no caso de Ronaldo Fenômeno – tanto que foi levado para análise da medicina esportiva. Nenhum médico conseguiu identificar o porque ele desenvolveu a doença.  “Alguns disseram que é genético, mas, não há histórico de hipertireoidismo na minha família. Eu acho que é a alimentação que causou isso.”
Na opinião do ex-jogador o aumento repentino do consumo de iodo -existente nos peixes e frutos do mar em geral - na época que morou em países orientais pode ser uma explicação. “Nenhum médico conseguiu me provar que não era a alimentação. Tanto que somente tomando hormônios não é controlada a doença. Eu tive que parar de tomar café por exemplo. Ou seja, alguma coisa com alimentos tem a ver.” Até hoje Adhemar toma doses hormonais para controlar o seu metabolismo e sofre com os efeitos colaterais e a mudança constante da dosagem do remédio. “Falta de sono, transpiração, tem vários efeitos no organismo. Hoje eu consigo bater uma bolinha de brincadeira, pois percebo quando estou bem ou quando estou com os hormônios lá em cima. Mas na época que jogava era impossível .” 

ORGULHO DO PROJETO ‘BOM DE BOLA, BOM NA ESCOLA’
Depois que deixou o futebol profissional Adhemar decidiu fundar um projeto com crianças que incentiva alunos a estudarem e aprender a jogar futebol. O ‘Bom de Bola, Bom na Escola’ desde agosto de 2007 da oportunidade para garotos de 1ª a 8ª série, com médias escolares acima de 7 e um atestado médico comprovando que podem praticar futebol, de aprender a jogar bola com um super profissional como Adhemar. A ideia surgiu com a posse de uma grande área livre em Porto Feliz. “Cheguei a pensar em construir algumas casas no local para depois alugá-las. Mas percebi que isso só beneficiaria a mim mesmo. O projeto foi a melhor coisa que fiz, pois  não tem nada mais prazeroso do que ser abordado por um garotinho na rua me falando que tirou 10 em português, 8 em matemática... Isso me renova!”
Atualmente o ‘Bom de Bola, Bom na Escola’ conta com 120 crianças e Adhemar participa ativamente de todos os departamentos do projeto. “Eu sou o Presidente, o treinador, o amigo, o psicólogo, o tio (risos). Faltam profissionais para ajudar. Tem um amigo meu que jogou comigo no Estrela, o Paulo Roberto, que divide as tarefas comigo. Um dia ele monta o treino, no outro sou eu, a gente se reveza.” Os alunos quando ficam sabendo que seu professor tinha apelido de ‘Canhão’, ficam curiosos para aprender como ele fazia para chutar tão forte. “Não tem uma técnica exata, mas, eu tento ensinar. É claro que eles querem saber como chutar igual ao Tio aqui (risos). Se eu soubesse exatamente como ensiná-los todos os clubes iam querer me contratar não é? Mas eu acredito que potência é dom. Claro que pode-se trabalhar com a repetição para também se alcançar bons resultados, como no caso do Rogerio Ceni e do Marcelinho Carioca, por exemplo.”
Alguns alunos do projeto, que revelaram um talento incomum, já foram encaminhados para treinar em clubes e já são da Traffic, uma das maiores empresas de gerenciamento de futebol . Apesar do resultado positivo em termos de profissionalizar jovens para alcançar a carreira de jogador, Adhemar garante que o principal objetivo do ‘Bom de Bola, Bom na Escola’ é construir um cidadão. “O mais interessante é que quebra-se um tabu social, pois entre os garotos que treinam comigo há filhos de médicos, advogados, pedreiros, cortadores de cana, ou seja, por causa do futebol crianças de diferentes classes sociais se encontram e se relacionam e eu tenho certeza que são amizades que eles vão levar para a vida inteira.” 

O SONHO COM UMA CIDADE OLÍMPICA
Hoje, aos 40 anos, além do sonho em ser Presidente do São Caetano, Adhemar ainda pensa em criar um programa de humor esportivo, ideia surgida na época em que ele trabalhou como comentarista esportivo do canal BandSports. “O formato seria de perguntas e respostas e colocaria os jogadores em algumas situações complicadas, divertidas, como cantar o hino nacional inteiro (risos). Quantos arriscariam participar, hein?! (mais risos)” O programa já tinha até nome -  Bate e Pronto – mas de acordo com o ex-jogador, seu colega Mauro Beting “roubou” seu nome. “Eles me plagiaram criando o ‘Debate Pronto’ (risos)!”
Outro projeto, bem mais grandioso que Adhemar tem em mente é propor a construção de uma cidade olímpica na cidade em que vive, Porto Feliz, que em sua visão é uma região perfeita, pois fica no meio de São Paulo, Campinas e Sorocaba, que são as maiores cidades do Estado de São Paulo, e perto de dois aeroportos. “O local seria direcionado para formar talentos em todos os esportes, não só futebol, o que está em falta no Brasil, não é mesmo? Lá eles teriam toda infra-estrutura para estudar e morar também. Essa ideia não me sai da cabeça, pois para mim o esporte não são somente vitórias e derrotas. É muito mais que isso. É disciplina, companheirismo e formação de um caráter que é levado para toda a vida.”

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Homenagem ao anjo das pernas tortas

Se estivesse vivo, ontem, 18 de outubro, Mané Garrincha completaria 78 anos. A vida o levou cedo demais, deixando apenas no imaginário dos brasileiros a graça de dribles desconcertantes e de um futebol moleque, cheio de graça. Para homenagear o anjo das pernas tortas, nada melhor que uma crônica de Nelson Rodrigues, que naquele tempo, soube colocar em palavras a magia de ver Garrincha jogar.


DESCOBERTA DE GARRINCHA*

E eis, pela primeira vez, um "seu" Manuel é o meu personagem da semana. Com esse nome cordial e alegre de anedota, ele tomou conta da cidade, do Brasil e, mais do que isso, da Europa. Creiam, amigos: o jogo Brasil x Rússia acabou nos três minutos iniciais. Insisto: nos primeiros três minutos da batalha, já o "seu" Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais. E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita em empate e se disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um, driblando outro e consta inclusive que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin.
Amigos: a desintegração da defesa russa começou exatamente na primeira vez em que Garrincha tocou na bola. Eu imagino o espanto imenso dos russos diante desse garoto de pernas tortas, que vinha subverter todas as concepções do futebol europeu. Como marcar o inarrável? Como apalpar o impalpável? Na sua indignação impotente, o adversário olhava Garrincha, as pernas tortas de Garrincha e concluía: – "Isso não existe!". E eu, como os russos, já me inclino a acreditar que, de fato, domingo Garrincha não existiu. Foi para o público internacional uma experiência inédita. Realmente, jamais se viu, num jogo de tamanha responsabilidade, um time, ou melhor, um jogador começar a partida com um baile. Repito: – baile, sim, baile! E o que dramatiza o fato é que foi baile não contra um perna-de-pau, mas contra o time poderosíssimo da Rússia.
Só um Garrincha poderia fazer isso. Porque Garrincha não acredita em ninguém, e só acredita em si mesmo. Se tivesse jogado contra a Inglaterra, ele não teria dado a menor pelota para a rainha Vitória, o lorde Nelson e a tradição naval do adversário. Absolutamente. Para ele, Pau Grande, que é a terra onde nasceu, vale mais do que toda a Comunidade Britânica. Com esse estado de alma, plantou-se na sua ponta para enfrentar os russos. Os outros brasileiros poderiam tremer. Ele não e jamais. Perante a platéia internacional, era quase um menino. Tinha essa humilhante sanidade mental do garoto que caça cambaxirra com espingarda de chumbo e que, em Pau Grande, na sua cordialidade indiscriminada, cumprimenta até cachorro. Antes de começar o jogo, o seu marcador havia de olhá-lo e comentar para si mesmo, em russo: "Esse não dá pra saída!". E, com dois minutos e meio, tínhamos enfiado na Rússia duas bolas na trave e um gol. Aqui, em toda a extensão do território nacional, começávamos a desconfiar que é bom, que é gostoso ser brasileiro.
Está claro que não estou subestimando o peito dos outros jogadores brasileiros. Deus me livre. Por exemplo: cada gol de Vavá era um hino nacional. Na defesa, Bellini chutava até a bola. E quando, no segundo tempo, Garrincha resolveu caprichar no baile, foi um carnaval sublime. A coisa virou show de Grande hotel. E tem razão um amigo que, ouvindo o rádio, ao meu lado, sopra-me: "Isso que o Garrincha está fazendo é pior que xingar a mãe!". Calculo que, a essa altura, as cinzas do czar haviam de estar humildíssimas. O marcador do "seu" Manuel já não era um: eram três. E, então, começou a se ouvir, aqui no Brasil, na praça da Bandeira, a gargalhada cósmica, tremenda, do público sueco. Cada vez que Garrincha passava por um, o público vinha abaixo. Mas não creiam que ele fizesse isso por mal. De modo algum. Garrincha estava ali com a mesma boa-fé inefável com que, em Pau Grande, via chumbando as cambaxirras, os pardais. via nos russos a inocência dos passarinhos. Sim: os adversários eram outros tantos passarinhos, desterrados de  Pau Grande.
Calculo que, lá pelas tantas, os russos, na sua raiva obtusa e inofensiva, haviam de imaginar que o único meio de destruir Garrincha era caçá-lo a pauladas. De fato, domingo, só a pauladas e talvez nem isso, amigos, talvez nem assim.
Manchete Esportiva, 21/6/1958
 
 
* Esta crônica refere-se ao jogo Brasil 2 x 0 União Soviética, ocorrido em 15/6/1958. A URSS era apontada como uma das seleções favoritas ao título da Copa devido ao seu jogo "cientítico".

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Todas as camisas da história do São Paulo agora no smartphone


Nem o são-paulino mais doente é capaz de saber que o São Paulo já entrou em campo vestindo um uniforme azul, em 1969, no jogo contra o Real Madri? Ou que na Libertadores de 1978 o Tricolor teve que jogar com o uniforme do Unión Española – de laranja – num jogo contra o Palestino, pois não levou o segundo fardamento?

Agora os apaixonados pelo Tricolor podem encontrar essas e outras curiosidades no livro em formato de aplicativo “Todas as camisas da história do São Paulo”, de Paulo Gini, Rodolfo Rodrigues e Maurício Rito, da Panda Books.

Neste aplicativo o torcedor encontra os desenhos de todos os modelos usados pela equipe do Morumbi desde a sua fundação. Basta escolher o período em que quer navegar e pronto. 

Logo no início o torcedor descobre que o desenho da camisa número um, elaborado pelo alemão Walter Ostrich, é o mesmo desde a época em que o time se chamava São Paulo da Floresta, sofrendo mínimas transformações ao longo dos tempos.

“Todas as camisas da história do São Paulo” já está disponível para iPhone e iPod Touch. Podendo ser baixado por U$5,99 na loja virtual da Apple. E sabe o que é mais legal? As atualizações que virão serão gratuitas. Não quer perder tempo? Acesse o link http://bit.ly/otYLvp e baixe agora mesmo!

Ah, mas não é um benefício só da torcida do São Paulo. Os corinthianos desde o ano passado podem acessar “Todas as Camisas da História do Corinthians”, de Paulo Gini, Rodolfo Rodrigues e Maurício Rito. O link para download do aplicativo alvinegro é: http://itunes.apple.com/us/app/todas-as-camisas-da-historia/id442165451?mt=8&ls=1

Boa diversão!