sábado, 19 de fevereiro de 2011

#HISTÓRIAS DO ESPORTE: Gaviões da Fiel e Anistia




Há exatos 32 anos a Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians, foi protagonista de um momento inesquecível na luta pró anistia.

Num jogo Corinthians versus Santos, no estádio do Morumbi, uma faixa com a frase  ‘Anistia Ampla, Geral e Irrestrita’ é desfraldada no meio da torcida corinthiana e marca, definitivamente, a participação do povo a favor da volta dos perseguidos políticos.
O jornalista Antônio Carlos Fon, um dos idealizadores e autores da ‘pegadinha’ que deixou a repressão enfurecida, conta como tudo aconteceu:

Em 1978, 1979, nós parentes e amigos de perseguidos políticos, tínhamos fundado o Comitê Brasileiro pela Anistia. Mas, a palavra de ordem anistia estava muito restrito aos intelectuais, setores mais politizados e aos familiares e discutíamos muito como levar isso para o povo.
Um dia eu estava conversando com o Chico Malfitani que trabalhava comigo na Veja, e disse para ele: ‘O que precisamos mesmo é levar a palavra de anistia para a torcida do Corinthians, para o povo’.
O Chico era um dos fundadores da Gaviões e disse: ‘Vamos fazer’. Combinamos fazer isso num jogo Corinthians e Santos, vencido pelo Corinthians por 2 a 0. No dia, o Chico teve um problema familiar e chegou um pouco mais tarde, mas nós entramos, conversamos com o pessoal com quem ele tinha acertado e avisamos somente uma pessoa na imprensa: Osmar Santos, que era um locutor esportivo mais conhecido e de esquerda, ligado às lutas democráticas.
E o Osmar Santos, anunciou: ‘A Gaviões vai fazer uma surpresa quando o time entrar em campo’. E isso levou todas as outras rádios, emissoras de TV e jornais a ficar esperando.
Na hora em que o time entrou, muitos fogos, aquela fumaça... E abrimos a faixa. Na hora que a fumaça baixou estava lá: Anistia Ampla, Geral e Irrestrita.
Quase todo mundo fotografou e isso foi para o Brasil inteiro. E realmente conseguimos o objetivo; só que a PM tentou subir para nos prender.
E eu gosto de pensar que foi uma adesão ideológica, mas que pode ter sido apenas uma atividade lúdica, mas a torcida saiu na porrada com a PM e não deixou os policiais subirem e nós ficamos lá, tranquilos.
Só que o outro companheiro que tinha levado a faixa, Carlos MacDowell, era santista e ele disse: ‘Fon, não vou ficar assistindo o jogo aqui na torcida do Corinthians. Vou assistir da torcida do Santos’.
Ele desceu e a PM o prendeu. Ele ficou preso pouco tempo, porque já tínhamos um esquema com o advogado Luís Eduardo Greenhalg, que o liberou no DOPS.
O engraçado, é que tive qua fazer uma matéria para a Veja e ir ao DOPS para entrevistar o Edsel Magnotti, delegado titular que era quem prendia e torturava a gente. E aí ele demorou um pouco para me receber. Quando entrei, atrás da mesa dele estava uma ampliação enorme da faixa e eu lá, segurando ela. Era aquela coisa, como se ele tivesse dizendo: ‘Olha aí seu filho da mãe, eu sei que foi você’.

P.S. Hoje, no Memorial da Resistência, o jornalista Juca Kfouri deu uma palestra sobre essa e outras histórias que mostram a relação da política com o futebol. Uma lição de história!

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